São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
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Brasil lidera ISO 9000 no Mercosul

DANIEL BRAMATTI
DE BUENOS AIRES

No âmbito do Mercosul, o Brasil é o país que mais avançou no processo de implantação da gestão de qualidade, segundo especialistas da Argentina, do Uruguai e do Chile, que assinou um acordo de livre-comércio com o bloco.
A opinião generalizada é a de que o Brasil lidera o ranking dos certificados de qualidade ISO 9000 na região não apenas por ter mais empresas, mas por ter percebido antes a necessidade de se adaptar às novas exigências do mercado.
"A busca da qualidade na Argentina está começando. O Brasil já superou essa etapa inicial", disse o vice-governador da Província argentina de Mendoza, Jorge López, que preside o Prêmio Nacional de Qualidade.
O uruguaio Gonzalo Blasina, secretário técnico do Comitê Nacional de Qualidade, reconhece a liderança do Brasil, mas considera que, de modo geral, os empresários latino-americanos estão muito "lentos".
"Existe uma melhora nos índices de qualidade, mas eles aumentam a um ritmo menor do que necessitamos. A grande massa dos empresários ainda não compreendeu a importância da gestão de qualidade", disse Blasina.
Segundo ele, pouco mais de 20 empresas uruguaias obtiveram até hoje o certificado ISO 9000.
No Chile, o número de empresas certificadas também é pequeno (cerca de 30), apesar de o tema qualidade estar na ordem do dia há mais tempo, por causa do processo de abertura da economia iniciado na década de 70.
Competição
"A abertura provocou uma grande conscientização sobre a importância da qualidade. Vendemos cerca de 40% de nossa produção para o exterior, onde as exigências são maiores", disse o chileno Lee Ward, diretor do Instituto Nacional de Normatização.
As empresas voltadas ao mercado interno também foram afetadas, já que tiveram de equiparar a qualidade de seus produtos à dos importados.
A busca pelos certificados ISO 9000 no Chile é recente, segundo Ward. "Os processos começaram há um ano e meio."
Todos os especialistas consultados pela Folha advertiram sobre a importância relativa da certificação pelo ISO 9000.
"Há 30 mil empresas certificadas na Grã-Bretanha e cerca de 500 no Japão, mas são os japoneses que lideram os processos de gestão de qualidade. Na Alemanha, estudos indicam que não existem grandes diferenças entre as empresas certificadas ou não", disse Gonzalo Blasina.
"Os empresários devem encarar o ISO 9000 como uma etapa a ser superada, e não como o objetivo final", afirmou Mário Wittner, diretor-geral interino do IRAM (Instituto Argentino de Racionalização de Materiais), uma das instituições credenciadas para conceder o certificado.
O certificado também traz vantagens limitadas para empresas que comercializam seus produtos somente no Mercosul, segundo o argentino Jorge López.
"O certificado está mais orientado aos mercados extra-Mercosul. De qualquer forma, assegura o cumprimento de exigências mínimas de qualidade e aumenta a competitividade das empresas", disse López.
Exigência
A partir de junho do ano que vem, a Ford vai exigir de seus fornecedores o certificado de qualidade Q1, cuja concessão depende do cumprimento de normas mais rigorosas do que as do ISO 9000.
A partir do segundo semestre de 1998, o certificado exigido será o QS (Quality Standard), que incorpora regras ainda mais específicas.
Os certificados foram idealizados em conjunto pelas montadoras Ford, Chrysler e GM, que consideram insuficientes as normas de qualidade do ISO 9000.
"Não poderíamos competir com as montadoras japonesas se nosso sistema de qualidade se limitasse ao ISO 9000", disse Juan Carlos Bassi, da Ford Argentina.
A montadora está exigindo que fornecedores de autopeças montem sistemas de qualidade baseados no aprimoramento contínuo. "Estes sistemas têm de atender às nossas exigências de qualidade, quantidade e redução de custos", disse Bassi.
O último item é especialmente valorizado. Segundo o especialista, "de nada adianta montar um sistema de gestão de qualidade se isso provoca aumento de custos".

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