São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
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"Dementia omnia vincit"

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Não acredito no axioma em vigor na publicidade: uma imagem vale 10 mil palavras. Os grandes movimentos da história foram feitos com palavras. Contudo a imagem vale pela síntese, nunca pela análise.
Os jornais publicaram, esta semana, a foto do estado-maior do PFL comendo gulosamente com os olhos o prefeito carioca Cesar Maia. Lá estavam ACM e seu rebento (um jovem pulcro e promissor), Inocêncio Oliveira e outros líderes que os jornalistas da área chamam de "próceres" (no esporte, usa-se o feio, mas adequado nome de "paredro").
Comprometido até o pescoço com os governos (todos os governos), o PFL dispõe de meia dúzia de cardeais, mas de nenhum papa. Luís Eduardo é muito moço ainda, leva jeito, mas pode esperar. Na eleição passada, faltou ao PFL um trator que comesse as massas -comendo até, se necessário fosse, buchada de bode.
Paradoxalmente, o trator que apareceu foi FHC, com uma voracidade que fez o estômago dos pefelistas entrar em recessão. O compromisso de estar sempre com o governo falou mais alto e FHC foi aceito. Um burro coçou o outro. Apesar disso, a esperança seria a última a morrer.
Eis que surge, com violenta fome de poder e mercado, o alcaide carioca. Topando qualquer papel, de andar nu a posar de louco, Cesar Maia traz com sua demência o passado brizolista da oposição e o presente oportunista do PFL de sempre. A partir de agora, há um rival para FHC, um kamikaze que fará qualquer coisa para chegar lá.
A foto deve ser vista, revista e meditada. O carinho que há no olhar dos pefelistas é a certeza de que, afinal, o PFL em breve pode se descartar do PSDB. A austeridade da caserna (que tanto seduziu os pefelistas no passado) em tempos de modernidade topa a galhofa -desde que tenha no poder um ambicioso disposto a qualquer papel.

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