São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 1996
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Paulo Coelho esquenta 'bienal da bomba'

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Encerrados os trabalhos, feito o balanço, a 14ª Bienal do Livro foi um evento que não será esquecido.
Talvez fique na lembrança como a "bienal da bomba", devido ao artefato encontrado na quinta-feira, num banheiro do Expo Center, que gerou mais barulho na imprensa do que vítimas.
Ou fique conhecida como a "última bienal". Segundo promessa da CBL (Câmara Brasileira do Livro), organizadora do evento, a partir de 98, a feira de livros de São Paulo será anual.
Foi, também, a primeira feira segmentada, seguindo tendência do mercado, dividida em três pavilhões -o das editoras grandes, o das pequenas e o das escolares.
Os aspectos positivos são os recordes de venda e de público e a conquista de um consumidor mais popular, graças à troca de endereço, do Ibirapuera para o Expo Center, na zona norte, mudança que visava maior espaço.
Saíram as árvores e a paz do Ibirapuera e entraram em cena o odor do rio Tietê e a aridez e ausência de natureza da Vila Guilherme.
No entanto, a feira será lembrada como a "bienal do aperto". Apesar de mais espaçoso do que o pavilhão do Ibirapuera, o Expo Center tem um equívoco no seu projeto, que transtornou a feira.
Os três pavilhões são ligados por um estreito corredor.
Demorava-se 15 minutos para ir de um pavilhão a outro, atropelando-se leitores esfomeados, crianças perdidas, cadeiras de rodas e personalidades famosas.
A feira também poderá ser lembrada como a "bienal do estelionato automotivo", já que não existiam vagas para carros nas ruas.
Restava aos visitantes pagar R$ 10 para estacionamentos privados.
Os escritores e agregados prestigiaram o evento, baixando em peso, de Jô Soares a Ziraldo, de Angélica a Eliane.
E, mais uma vez, a personalidade que mais se destacou é adorada pelo público e indeferida pela crítica descortês: Paulo Coelho.
Paulo Coelho
Independente do valor literário de sua obra, Paulo Coelho é um profissional exemplar.
Foi dos poucos a dar autógrafos em dois dias de feira, apesar de poder dispensar o contato direto com o público para divulgar "O Monte Cinco", seu novo livro.
E sem estrelismos de um best seller mundial, autografou durante quase dez horas ininterruptas.
Revolucionou a relação autor-editor, ao exigir, no seu contrato com a nova editora, Objetiva, uma verba específica para publicidade.
"O projeto Paulo Coelho nos custou 1 milhão de reais, 500 mil só de adiantamento. Recuperaremos o investimento logo. Basta a vendagem ultrapassar 120 mil exemplares", calcula Alfredo Gonçalves, sócio da Objetiva.
O publicitário Mauro Salles (o livro "O Monte Cinco" é dedicado a ele) é o autor do projeto. A divulgação está em painéis de ônibus, outdoors e na mídia impressa, especialmente revistas femininas -dica do próprio autor.
"É um profissional. Diz o que pensa, interage, sempre humilde. Como ele mesmo diz, temos de estar o tempo todo com a espada em punho", completa Gonçalves.
Sentado numa mesa estreita, diante da enorme fila (demorava cinco horas para se conseguir um autógrafo), Coelho atendeu a imprensa, tirou fotos com leitores.
Tem suas manias. Sempre que requisitado, tira fotos olhando direto para as lentes.
Não acorda nunca antes do meio-dia e não trabalha aos domingos, "seguindo conselhos de seu guru", explica Patrícia Casé, uma de suas assessoras.
Perguntei o que ele fazia trabalhando num domingo. "Isto não é trabalho, é uma comunhão de amor", respondeu Paulo Coelho.
E o cansaço? "Não me sinto cansado. Pelo contrário, tem uma energia aqui", disse.

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