São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 1996
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Nostalgia e hipocrisia explicam o sucesso da turnê dos Pistols

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA,

em Los Angeles
O Brasil pode continuar sem temer terremotos. Nem Los Angeles tremeu. Os Sex Pistols, que tocam em São Paulo no dia 3 de dezembro, estão em fase de tempo bom.
Depois de um tratamento de estrela de Hollywood, no seu primeiro show na Califórnia desde janeiro de 1978, quando a banda acabou, os Pistols decidiram abrir os camarins para mais adulação.
Aos Pistols o que é dos Pistols. Fama, reverência, dinheiro. Até mulheres. Sim, o quarentão Steve Jones ainda faz pose de galã ao ser assediado por adolescentes.
Paul Cook tem sempre o que dizer a músicos de bandas iniciantes. Mas poucas palavras para a imprensa. "Escreva o que quiser", chegou a responder à Folha, fugindo da entrevista.
Glen Matlock não tem esse problema. Talvez por isso tenha sido expulso da banda, em 1977, e substituído pelo revoltado Sid Vicious. Sorridente, ele até posa para fotografias.
É o oposto de John Lydon. O homem das respostas ácidas, Johnny Rotten, nem saiu de seu camarim. Muitos boatos, que todos aumentam, sobre problemas de relacionamento entre a estrela e os outros integrantes.
Como a carreira individual de nenhum dos Pistols anda boa -a banda de Jones, Neurotic Outsiders, acaba de ser destroçada pela imprensa americana-, os Pistols continuam na estrada. Mas já circulam notícias sobre um disco solo de Lydon.
A Folha falou com os Sex Pistols nos camarins do Universal Amphitheatre.
*
Folha - Você credita à nostalgia o sucesso da turnê?
Glen Matlock - Nostalgia do quê? De uma época em que não ouviam o que tocávamos, diziam que éramos ruins e que nossos shows eram uma droga? Acho que você pode chamar isso de nostalgia, romantismo ou hipocrisia.
Folha - O fato de o show ter som perfeito e ser bem tocado não é uma traição à história?
Matlock - Você achou que a gente ia tocar mal, não é? Todos esperam. Está certo que a gente ensaiou, se preparou, mas, pelo menos no meu tempo, sempre fizemos isso. Punks eram as aparelhagens de som que nos davam para tocar e o público bêbado e idiota.
Folha - A turnê está servindo para reescrever a história dos Pistols?
Matlock - Talvez. Pelo menos, as perguntas sobre Sid Vicious têm diminuído consideravelmente.
Folha - E sobre Malcolm McLaren?
Paul Cook - Quem é Malcolm McLaren?
Folha - Já existem planos sobre o que vai acontecer depois do fim da turnê?
Steve Jones - Bem, a gente ainda tem que tocar na Austrália, no Japão e na América do Sul. Isso vai nos manter ocupados até 97. Tem muita coisa para acontecer. E, com esta banda, tudo costuma acontecer.
Folha - As casas cheias não fazem vocês considerar a gravação de músicas novas? Já pensaram em virar uma banda permanente?
Jones - Tentamos não pensar. Não temos nenhum plano, realmente.
Folha - Vocês imaginavam que tinham tantos fãs?
Jones - Sempre fomos odiados. O que é uma ironia, porque também sempre recebemos propostas indecentes para reformar os Pistols e fazer um show. Isso nunca fez sentido. Agora, faz. Sabemos bem quem nos odeia -nos odiavam antes e nos odeiam agora.
Folha - Por que voltar agora, após recusar tantas propostas?
Jones - Pergunte isso para John e espere a resposta.
Folha - The Clash vai voltar depois do sucesso de vocês?
Paul Cook - Não seria surpresa. Eles sempre nos seguiram, fazendo tudo o que fazíamos.
Folha - Vocês vão tocar no Brasil "No One Is Innocent" (que gravaram com Ronald Biggs no Rio)?
Paul Cook - Não.
Folha - Por que não tocaram "No Fun", que estava prevista, no bis em Los Angeles?
Glen Matlock - Porque não gostamos do público dessa noite.

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