São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 1996
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Covas joga a toalha

LUÍS NASSIF

Talvez nem todo mundo tenha percebido, mas na sexta-feira passada o governador paulista Mário Covas chutou o balde e desistiu definitivamente de manter o Banespa sob controle do Estado.
Houve reunião com 5.000 banespianos, no Palácio dos Bandeirantes, na qual Covas entrou aplaudido e saiu vaiado. O que levou à mudança do humor da platéia foram duas afirmações do governador:
1) Não repetiria mais a proposta inicial (apresentada ao Banco Central) de pagar metade da dívida do Estado com o banco, com o aporte de ativos estaduais, e refinanciar o restante.
2) Em relação à Medida Provisória que definiu as regras de auxílio do Banco Central aos estaduais, Covas não quis se comprometer com nenhuma concessão que não atendesse aos interesses do Estado.
Para os banespianos, a declaração soou clara. A MP determina que só os Estados que decidirem pela privatização de seus bancos terão direito a 100% de financiamento na reestruturação de seus passivos.
Assim, entra-se na reta final de uma pendência com final óbvio, na qual ninguém ganhou, nem Covas, nem o governo federal, nem o Estado de São Paulo.
A série de desacertos entre o governo paulista e o BC não apenas ajudaram a fortalecer a imagem de indecisão das duas instâncias, como contribuiu decisivamente para a redução da importância e do valor daquele que já foi o maior banco de São Paulo e um dos três maiores do país.
Conversa de surdos
Não cabe a Covas a responsabilidade pela fragilização do banco -tarefa na qual se empenharam os governos anteriores, auxiliados por sucessivas e irresponsáveis práticas monetárias do BC. Mas a incapacidade de se chegar a um acordo rápido -e óbvio- vai repercutir durante muitos anos na imagem do governo e do seu partido em São Paulo.
Foi um roteiro de desacertos permanentes. A decisão de intervir no Banespa foi tomada sem que se consultasse previamente Covas -o maior aliado e grande eleitor do novo presidente da República.
O novo presidente do BC, Pérsio Arida, acenava com a privatização como condição suficiente para resolver a questão do endividamento do Estado.
Covas retrucava, corretamente, que não aceitaria a privatização antes de equacionar o endividamento, mesmo porque, sem a solução prévia da dívida, não haveria comprador.
Ficou uma conversa de surdos, enquanto a política monetária ia aumentando rapidamente o passivo do Estado junto ao banco.
A saída de Arida interrompeu as negociações, que foram retomadas tempos depois pelo novo presidente do BC, Gustavo Loyola.
Apenas em outubro do ano passado chegou-se a um acordo. A dívida do Estado com o Banespa estava em R$ 15 bilhões. Pelo acordo, o Estado quitaria metade da dívida com ativos próprios e refinanciaria a metade restante.
Impasses
O primeiro impasse surgiu na hora de avaliar os bens oferecidos. Covas pretendia que a Fepasa fosse avaliada pelo valor de reposição -ou seja, pelo valor necessário para reconstruir todas as instalações.
O BNDES -que garantiria o refinanciamento da dívida- alegava corretamente que o valor deveria ser calculado com base no potencial de faturamento futuro da companhia.
Esse é o conceito correto, utilizado por todos os bancos de negócios na avaliação de empresas. O principal homem de Covas nas negociações, economista Adroaldo Moura da Silva, também considerava correta a posição do BNDES. Não se chegou a um acordo e Adroaldo acabou se afastando das negociações.
Mesmo sem essa questão solucionada, Covas conseguiu que a Assembléia Legislativa paulista aprovasse a operação. Mas ela esbarrou no Senado. Quando o Senado resolveu aprová-la, os juros já haviam aumentado a dívida em R$ 3 bilhões.
Novo impasse, que desaguou no encontro de sexta, onde Covas abriu mão do objetivo de conservar o Banespa.
Toca agora descobrir o que restou de um Banco que acabou vítima da falta de princípios de alguns governantes -e do excesso de princípios de outros.

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