São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996
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Aliado quer tirar Motta de coordenação

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Parlamentares que apóiam a reeleição têm mais uma coisa em comum, além da disposição de manter Fernando Henrique Cardoso no Planalto por mais quatro anos: avaliam que o ministro Sérgio Motta (Comunicações) não deve assumir o comando da operação.
É Motta quem vem pilotando, há mais de um ano, a proposta de reeleição de FHC. Boa parte de sua agenda é dedicada à articulação política informal do governo e ao projeto do PSDB de permanecer no poder.
A participação do ministro é considerada inevitável pelos aliados, mas como uma espécie de "linha auxiliar".
A principal restrição a Motta no papel de coordenação da reeleição refere-se ao estilo "trator" de fazer política, bastante polêmico e criticado por parcelas do PMDB, PFL e até pelos próprios tucanos.
Eles citam como exemplo do estilo "trator" a atuação de Motta na campanha de José Serra (PSDB) à prefeitura paulistana.
O ministro nunca pensa duas vezes antes de atacar seus adversários -como o prefeito de São Paulo, Paulo Maluf (PPB).
Também pesa o fato de, ao dar prioridade ao projeto tucano de poder, Motta criar muita "ciumeira" entre os demais parceiros do projeto, especialmente o PFL.
"Não pode ser ele (Motta), senão começará a ciumeira", disse o presidente do PFL, deputado José Jorge (PE), dando sinais de que seu partido não está disposto a entregar aos tucanos o papel de destaque na articulação da emenda.
O comando do projeto deverá caber ao próprio FHC, insiste José Jorge (PE). "Se ele não assumir publicamente o projeto, vai ficar difícil aprovar a reeleição."
"O ideal seria o próprio presidente coordenar", concorda o líder do PMDB na Câmara, Michel Temer (SP), integrante da ala do partido favorável à reeleição.
"A esta altura, ninguém pode mais imaginar que o presidente esteja contra, mas ele vai ter que entrar para aglutinar votos."
FHC tem evitado se expor como principal articulador da emenda. Esse comportamento não mudará por enquanto. Pelo menos, até o resultado das eleições.
Mesmo os parlamentares mais cautelosos diante dos riscos da operação atribuem a FHC um papel decisivo no jogo. Caberia ao presidente -e a mais ninguém- supervisionar a conquista de votos ao projeto e interferir nos momentos mais importantes.
Apesar de o início formal do debate da reeleição no Congresso ser uma decisão que compete ao presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), nem mesmo os pefelistas acreditam que ele poderá assumir o papel de coordenador. "A ciumeira seria maior ainda", prevê José Jorge.

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