São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996
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Nem Zagallo sabe time que enfrenta a Rússia

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Nem mesmo Zagallo sabe que Brasil entrará em campo hoje contra a Rússia. Mas basta saber que lá estarão Giovanni e Ronaldinho, protagonistas ainda no domingo passado de uma das mais belas exibições de duplas dos últimos tempos do futebol internacional, na goleada do Barcelona sobre o Atlético de Madrid.
E se Leonardo entrar na deles por osmose, já que treino é um luxo que escapa ao cotidiano de nossa seleção, então poderemos desvendar um pedacinho do paraíso.
Por falar nesses três, recaio no já envelhecido bordão: gostaria de ver -nem que fosse por uma só vez- Leonardo (ou André) atuando como segundo volante, ao lado de Mauro Silva ou Flávio Conceição, até mesmo Zé Elias ou César Sampaio, não importa. Importa é conferir à saída de bola da nossa seleção, a partir de sua intermediária, um toque de bola inteligente e mais sofisticado do que o oferecido por dois volantes tipicamente de marcação, como tem sido.
Quando coloquei as cartas na mesa para Zagallo, na Copa América, sua explicação era de que o seu cabeça-de-área, na verdade, joga enfiado entre os zagueiros internos. O outro volante, pelo esquema, tem de sair pela direita, senão entorta o time.
O fato é que, desde aquela Copa América até a Olimpíada, o que se viu foi a defesa jogando em linha, presa fácil dos contragolpes que nos derrotaram tanto numa quanto noutra competição, sem contar os sustos tomados ao longo do caminho a Miami. Resultado: o esquema está errado, e o Tostão, com seu olho clínico (e aqui o sentido é literal), já esmiuçou isso à exaustão nos seus comentários na TV Bandeirantes.
O melhor é manter um primeiro volante à frente da zaga, pegando o atacante mais enfiado do adversário, para que sobre um beque lá atrás, eliminando a tal linha burra, maná dos contragolpes. O segundo volante sai distribuindo o jogo, o que dará qualidade no passe na hora de atacarmos. Mesmo porque, contra o Brasil, todo mundo joga lá atrás. Logo, a organização de jogadas ofensivas acaba ficando aos pés desse volante, não dos meias a quem o atual esquema reserva esse papel.
Custa tentar, custa?
*
A propósito, outro dia, dei uma traulitada no técnico inglês do Barcelona, que não vinha colocando Giovanni e Ronaldinho juntos. Colocou, e deu no que deu: um espetáculo de técnica e eficiência.
Mas foi além, sir Bob: quando o jogo apertou, com o inesperado empate dos madrilenhos, sacou o volante Guardiola e sapecou logo o meia De La Peña, um moleque habilidoso que logo se foi juntar a Figo, Giovanni, Ronaldinho e Stoichkov (depois, Pizzi) lá na frente, formando um quinteto atacante arrasador.
Vejam só: há quantos milênios não se fala em quinteto atacante, hein?
*
Último ato público de Flávio Conceição, antes de embarcar para Madri: sábado, ao cair da tarde, ficou ali no estande da Melhoramentos, na Bienal do Livro, autografando o livro "Palmeiras - A Eterna Academia". Quanta honra, para este pobre marquês.

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