São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DE TIRAR O FÔLEGO

DE TIRAR O FÔLEGO

As revoluções sociais, políticas e morais chegam a esse fim de século e de milênio francamente desmoralizadas. Não é que a busca dos valores mais altos, das liberdades mais amplas e da igualdade tenham chegado ao fim. Mas o que de fato marca nosso tempo é a revolução tecnológica.
Nesse campo parece não existir pausas nem limites, e uma inovação substitui outra antes mesmo que as sociedades tenham conseguido absorver plenamente a anterior.
Esse ritmo frenético, de revolução permanente, é ainda mais nítido na chamada sociedade da informação. As tecnologias da informação, da infra-estrutura de telecomunicações ao desenvolvimento de programas utilitários ou de entretenimento, passando pelo lançamento praticamente contínuo de novos produtos e processos produtivos, nada na história se compara em quantidade e intensidade com a radical transformação tecnológica em curso.
Nesta semana três notícias ilustraram bem o que está em jogo. Na segunda-feira foi anunciada mais uma enorme fusão entre empresas, envolvendo um patrimônio que chega aos US$ 20 bilhões, criando uma das maiores supridoras de serviços de comunicação do planeta. Outra notícia é o desdobramento da batalha entre Microsoft e Netscape pelo domínio do padrão de "browsers", os programas de computador que facilitam o tráfego pela Internet, a rede das redes, que vai assim atingindo uma inegável maturidade como mídia e como mercado. A Netscape uniu-se a outros gigantes, como IBM e Oracle, além de algumas empresas japonesas, enquanto move ofensiva jurídica contra a Microsoft. Finalmente a Sony, num outro campo, anunciou o lançamento de uma TV que já dará acesso à Internet, a custo mais reduzido, pois se trata de um televisor e não de um computador.
Infra-estrutura, software, bens de consumo duráveis: a revolução da tecnologia da informação atravessa certamente todos os níveis da organização econômica.
No Brasil, infelizmente, o governo tem sido uma barreira à rápida difusão dessas tecnologias, dado o caráter "inercial" do monopólio estatal no setor de telecomunicações. Já não se usa a expressão "reserva de mercado", mas seria ingenuidade crer que as mentalidades inspiradas no modelo protecionista são coisa de um passado longínquo.
A urgência de dar espaço a essas transformações, permitindo ao setor privado o pleno desenvolvimento nesse mercado, é incalculável. Toda a economia depende dos avanços nessa área e a falta deles transforma as telecomunicações em mais um componente do chamado "custo Brasil". Ou o país trata de recuperar o atraso ou está condenado a perder o bonde da história, com a agravante de que o bonde é hoje um foguete.

Texto Anterior: ABRIR AS CONTAS
Próximo Texto: A morte e a glória
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.