São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996
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A morte e a glória

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Por sugestão do companheiro Cláudio Garon, convido o leitor para um passeio imaginário pela geografia latino-americana, fazendo de conta que ocorreu aqui o que aconteceu anteontem na Coréia.
Lá, dois ex-presidentes foram condenados (um deles à morte). Acusações: conspiração para um golpe de Estado (bem-sucedido, aliás), seguido de violações aos direitos humanos, e recebimento de gordas propinas do empresariado.
No mesmo processo, foram condenados executivos de poderosas empresas coreanas, ex-assessores presidenciais e generais.
Muito bem. Se o método tivesse sido aplicado por estes tristes trópicos, o general Augusto Pinochet Ugarte estaria na cadeia (ou teria sido morto), em vez de estar no comando do Exército chileno, posição a partir da qual, de vez em quando, tumultua o processo democrático.
O peruano Alberto Fujimori teria tido idêntico destino, por ter fechado o Congresso, em vez de obter a reeleição e, de quebra, a possibilidade de um terceiro mandato, graças a uma interpretação marota da nova Constituição.
No Brasil, Fernando Collor de Mello não estaria em Miami, onde torra, supostamente, o dinheiro da família, à base de US$ 37 mil por mês, conforme mostrou a Folha dias atrás. É o típico "sinhozinho", que sangrou primeiro os cofres de Alagoas, depois os da União e, agora, a herança familiar.
E ainda há quem o considere a quintessência da modernidade. Só no Brasil, meu Deus.
Também só no Brasil os empresários que confessaram contribuições para o propinoduto montado por PC Farias continuam livres, leves e soltos. Alegam que sofreram chantagem, fato que convenientemente esqueceram de denunciar no ato.
Já os que poderiam ser acusados de conspiração para subverter a ordem democrática hoje são nome de ruas, avenidas, praças, viadutos, o diabo.

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