São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 1996 |
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Os apetites e a caterva
CARLOS HEITOR CONY Rio de Janeiro - Pela voz do presidente da República, o governo federal garantiu que não cometeria o crime do fisiologismo eleitoral. Como sempre acontece quando FHC garante alguma coisa, o que verificamos é exatamente o oposto.Dias atrás foi encenado, com mais pompa do que circunstância, um programa de metas que nem chega a ser uma carta de intenções. Para sua concretização será necessário um patrocínio externo, como se a administração pública fosse um show do Caetano, um filme do Jece Valadão. Os jornais divulgaram a conta que o governo vai pagar para manter seus aliados nas prefeituras mais interessantes. Somando verbas para o seguro-desemprego, o socorro aos Estados à beira da falência, o controle das tarifas públicas (sem contar o adiamento da reforma administrativa), a dolorosa sobe a R$ 10 bilhões, quase o mesmo que foi injetado no sistema bancário. Evidente que ninguém pode ser contra um período maior de duração para o seguro-desemprego. Como ninguém, no regime de liberdade de crença, pode impedir que o Edir Macedo tenha rede de televisão. A indecência está na conotação eleitoral dessas medidas. O tucanato julgava-se uma matrona de Éfeso, por isso condenou Quércia, demonizou Maluf. E depois de perder as esperanças de integrar o governo Collor, partiu para a retaliação e ajudou a expulsar a "República de Alagoas" do poder. Nem cinco sóis são passados e aquilo que o Jânio Quadros chamava de "apetites" estão escancarados. O melhor amigo e ministro das Comunicações já comunicou à nação que o outro melhor amigo pretende ficar 20 anos na Presidência -e, com ele, todo o grupo politiqueiro que o Carlos Lacerda, antigamente, chamava de "caterva". Não culpem o cronista por usar termos antigos. Nada mais antigo do que pagar voto com dinheiro da nação. Texto Anterior: Itamar, Ciro e Zé Dirceu Próximo Texto: Conjuntura econômica Índice |
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