São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 1996
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Fundos estudam participação na gestão da Gazeta Mercantil

Empresa avalia nova emissão de debêntures

FREDERICO VASCONCELOS
EDITOR DO PAINEL S/A

Os fundos de pensão das estatais deverão participar da administração da Gazeta Mercantil S/A e fazer um novo aporte de recursos na empresa que edita o jornal.
As fundações indicaram Victório Cabral, ex-presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), para fazer um estudo sobre a viabilidade e o interesse em nova emissão de debêntures (títulos de crédito que rendem juros).
A Folha apurou que Cabral deverá assumir a diretoria administrativo-financeira da empresa jornalística, exercendo funções atualmente acumuladas pelo presidente, Luiz Fernando Levy.
As mudanças indicam que não foi suficiente o aporte de US$ 23 milhões, em 1994, quando a Gazeta Mercantil abriu o capital para receber recursos de um "pool" de fundos de pensão de estatais.
Na ocasião, em entrevista à Folha, Levy admitiu que havia "certa contaminação dos negócios da família sobre a atividade do jornal".
Apesar das projeções otimistas e dos novos produtos editoriais lançados pelo grupo, a Gazeta Mercantil só veio a publicar um balanço positivo no exercício de 1995 (lucro de R$ 3,3 milhões).
Encerrou o primeiro semestre deste ano com pequeno lucro (R$ 550 mil), apesar do prejuízo financeiro de R$ 10,9 milhões (o que indica endividamento elevado).
A empresa informou às Bolsas receitas líquidas de R$ 26,9 milhões no segundo trimestre. E que o faturamento superou em 24,13% o do mesmo período em 1995.
Os custos dos produtos e serviços responderam por 35,9% do faturamento. As despesas de administração e vendas (R$ 12,4 milhões) ficaram dentro do nível esperado pela empresa.
Previsões otimistas
O primeiro aumento de capital com participação dos fundos de pensão envolveu 16% das ações preferenciais (sem direito a voto).
A entrada dos fundos de pensão na Gazeta Mercantil, há dois anos, contou com a ajuda da Abrapp (Associação Brasileira das Entidades de Previdência Privada) e orientação de Ary Oswaldo Mattos Filho, ex-presidente da CVM.
Como a Constituição veda a participação de pessoas jurídicas (empresas) no capital social das companhias de comunicação, o aporte dos fundos de pensão entrou como recursos de pessoas físicas (os sócios dessas fundações estatais).
Participaram da operação a Previ (BB), Sistel (Telebrás), Telos (Embratel), Petros (Petrobrás) e um fundo privado (da Philips). Na ocasião, o então presidente da Previ, Francisco Valderrama Jr., disse que se tratava de "uma operação de saneamento que proporcionará novos investimentos para a empresa, que se tornará rentável".
A CVM questionou, na época, os critérios contábeis do balanço da empresa. As projeções, feitas pela Ernst & Young, foram consideradas, por especialistas ouvidos pela Folha, excessivamente otimistas e inconsistentes com a evolução dos negócios da empresa e do setor.
Procurada ontem, a direção da empresa não quis se pronunciar.

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