São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 1996 |
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Feira faz babar gourmets de NY
NINA HORTA
É uma feira pequena, ao ar livre, como as nossas pequenas feiras ao ar livre. E os grandes "chefs" e gourmets se babam todos porque é uma feira sem teto, sem coisas embrulhadas em plástico, onde você pode saber de onde vem a sua maçã, conversa com quem a plantou, troca idéias de como cozinhar o peixe com o homem que o pescou. A única diferença de nossas feiras é que dispensaram o atravessador. Esses markets que se espalharam com grande sucesso pela cidade foram criados para preservar e apoiar os pequenos fazendeiros das redondezas. Pagam um aluguel pequeno e vendem em Nova York tudo o que plantam, pescam ou criam. Vi beldroegas (na modíssima. Só os avós de vocês sabem o que é beldroega. Talvez as bisavós), quiabo, flor de abóbora, muito legume minúsculo. Brotou tenro e macio, vão lá e nhoc! Galinhas dependuradas pelos pés, olhos vidrados, bagres, mel, maple, chás de ervas. Os cozinheiros entram em contato com os fazendeiros, pedem coisas exóticas como batatas peruanas, ou ora-pro-nobis, ou um grão estranho. Os clientes comem no restaurante que puxa a moda e no dia seguinte já estão de chapéu de palha na feira procurando o ingrediente "trendy" e gostoso. Não há mais o que inventar -brotos de samambaia, tortilhas de milho azul, de feijão preto, cactus, filezinhos de búfalo, algas temperadas. Aquela sujeira de fim de feira não tem vez. Uma das barracas vende composto para solo, recolhe os restos da feira e recebe restos caseiros. Cascas de frutas e legumes, café já usado, saquinhos de chá, talos de flores, cascas de ovos, de nozes, comida sem gordura como arroz, macarrão, pão, cereais, cabelos e unhas (animais e humanos). Todo o material recolhido é reciclado no centro ecológico de Lower East Side. Aqueles que participam do programa e contribuem com seus restos caseiros ganham cerca de 10 kg de composto por ano. O restante vai para os parques e árvores da cidade. Vendem também a minhoca do composto, a Eisenia foetia, minhoca vermelha das melhores... Quase todos os dias a feira é visitada por um grande chef que autografa livros e dá receitas orgânicas, complicadíssimas, como a de Alice Waters, que vi lá, de um simples suflê de milho com três páginas, tantas as reduções, os aproveitamentos. Que deve ficar uma delícia, lá isto deve. Ah, como diria Norah Ephron, Nova York é imbatível em matéria de possibilidades culinárias. Ela pensava duas vezes antes de se separar de um marido se fosse preciso mudar de cidade. Em que lugar do mundo acharia a rúcula, o radicchio, o manjericão, os salmões defumados, a azedinha, as ervilhas mange-tout, as seis espécies de broto e qualquer espécie de bagel? Concordamos em gênero, número e grau. Texto Anterior: Marrocos vai muito além do cuscuz Próximo Texto: Canto espelha-se na França campestre Índice |
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