São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 1996
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Os filhos de Lou

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

O círculo da história completa mais uma volta. Enquanto os ingleses Oasis e Blur conquistam multidões de ouvidos ao redor do planeta, um outro grupo de bandas, à frente os americanos Luna e Yo La Tengo -você já ouviu falar?-, segue à margem do grande público, ainda que pareça desinteressante a mistura de arte, poesia, rock e pop que praticam. Exatamente como há 30 anos.
Se Oasis e Blur imitam os também ingleses Beatles e Rolling Stones, Luna e Yo La Tengo estendem aos anos 90 o conceito do norte-americano Velvet Underground. Mantêm-se impopulares, mas não inacessíveis: a trilha sonora do filme "I Shot Andy Warhol" oferece pequena amostra do trabalho desses novos filhos de Lou Reed.
Os discos das duas bandas só circulam por aqui em importadoras. A Warner, dona do Luna, promete o lançamento nacional do grupo, mas em data ainda indefinida.
A banda, que tem acompanhado a nova turnê de Lou Reed, não vem ao Brasil, por falta de público ou de ousadia da organização brasileira.
Luna
Luna é a confluência de três outras bandas cult do circuito underground: Galaxie 500, Feelies e The Chills. Tem três CDs: "Lunapark" (92), "Bewitched" (94), com participação do ex-Velvet Sterling Morrison, e "Penthouse" (95).
Afeita a covers, a banda já gravou Dream Syndicate (outro grupo de John Cale), Serge Gainsbourg, Donovan, Talking Heads, Beat Happening (também grupo-filhote de Velvet) e -claro- Velvet.
Não repetem a fúria transgressora das primeiras letras de Lou, mas escancaram a influência (assumida abertamente, aliás) em melodias simples e poderosas à moda do Velvet pós-John Cale e poemas sobre "hábitos detestáveis", madrugada, prostitutas feiosas mas adoráveis, Nova York, ambiguidade sexual e pílulas para dormir.
Yo La Tengo
Com o Yo La Tengo, que já gravou sete álbuns desde 1985 e está lançando "Genius + Love", coletânea de lados B e singles de toda sua carreira, a coisa é diferente.
Embora o trio liderado pelo casal Ira Kaplan-Georgia Hubley negue a influência -Beatles, dizem, são seus mentores musicais-, seus discos são impregnados do mesmo experimentalismo do Velvet ainda com John Cale, embalado por vocais doces/narcotizados e melodias soturnas/climáticas.
Mesmo negando influência, a banda compôs uma canção para "I Shot Andy Warhol", no qual interpreta... Velvet Underground.
E Luna e Yo La Tengo são apenas a ponta do fenômeno. Velvet ostenta ainda assombroso potencial influenciador, que não se esvai, mas se multiplica mais e mais, anos 90 adentro. Beck, Pulp, Liz Phair, Pavement, PJ Harvey, Stereolab, Bjõrk, Breeders são apenas alguns exemplos de tributários do mito.

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