São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 1996
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"Enganar é Viver" é dispensável

INÁCIO ARAÚJO
DA REDAÇÃO

Se fosse uma mostra de filme antropológico, "Enganar É Viver" seria um precioso documento sobre a França, quase um ex-país exportador de idéias.
Como está sendo lançado comercialmente, a história é outra. Ainda assim, é inquietante que o novo trabalho de Etienne Chatiliez (de "Perversa e Perigosa - Tia Danielle") tenha concorrido em seis categorias ao prêmio César (o êmulo francês do Oscar).
O roteiro traz a história quase singela do industrial Francis (Michel Serrault) às voltas com problemas trabalhistas, uma mulher desagradável (Sabine Azéma) e uma filha chata.
Num programa de TV, ele é confundido com um sujeito que, anos atrás, sumiu do mapa, deixando mulher e filhas.
Mais que depressa, o homem adere à situação: troca a cidade pelo campo, na companhia da nova mulher, Dolores (Carmen Maura). Dolores sabe, tanto quanto ele, que Francis não é seu verdadeiro marido. Mas acha tudo muito bom. Francis sabe que também não é o homem em questão. Mas também acha tudo muito bom.
Para o lado de sua ex-mulher, as coisas também se acomodam de tal maneira que o equívoco parece contentar a todos.
Ok, estamos, bem à francesa, face a mais um caso em que a felicidade impõe-se às convenções sociais: esta é uma amoralidade padrão e simpática.
O problema é o filme perder o ritmo de suas "gags" com tanta facilidade, enquadrar suas imagens com tão pouco encanto e ter uma continuidade dramática tão periclitante.
O que sobra de tudo isso é um filme que toma como apoio a TV e a reproduz, e uma comédia em que quase não se esboça um sorriso. Enfim, "Enganar É Viver" é o que se pode chamar de filme dispensável.

Filme: Enganar É Viver
Produção: França, 1995, 110 min.
Direção: Etienne Chatiliez
Com: Michel Serrault e Sabine Azéma
Quando: a partir de hoje no cine Vitrine, desde 14h

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