São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 1996
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Menos asfalto

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O rodízio de automóveis em São Paulo parece não ter servido para atenuar o problema da poluição. Mas teve o efeito pedagógico de demonstrar, se ainda fosse necessário, que o trânsito na cidade só tem um remédio: menos veículos nas ruas.
Por partes: não houve, em agosto, período do rodízio, o acréscimo de um centímetro sequer de asfalto ou concreto, na forma de novas vias, viadutos, túneis etc. Ou, se houve, não foi em proporção nem sequer parecida com o alívio observado no trânsito.
Um motorista de táxi dizia, anteontem: "Parece que voltamos há anos atrás".
Fica evidente, portanto, que a melhora observada no trânsito se deveu ao menor número de veículos em circulação. Corolário inevitável: derramar mais asfalto e mais concreto na cidade não vai permitir uma circulação menos estressante.
Corolário dois: o planejamento urbano seguido pelos últimos muitos prefeitos foi equivocado, ao privilegiar a abertura de vias para o transporte individual, basicamente, em vez de perseguir um transporte público mais eficaz.
Se a saída é retirar veículos, em vez de acrescentar asfalto (a não ser, lógico, em situações muito específicas), resta perguntar como operar a mágica.
Um dos caminhos foi seguido em agosto. O caminho compulsório e punitivo. De acordo com o Datafolha, a maioria aprovou-o, a ponto de 59% defenderem a sua prorrogação.
De todo modo, desagradar 40% dos paulistanos não é simpático e talvez seja politicamente impraticável.
A alternativa, embora mais demorada, é começar já a preparar a retirada voluntária de veículos, que só poderá ser obtida quando o transporte público (metrô em especial) for palatável para uma grande maioria.
A cidade já perdeu tempo demais investindo em asfalto. O rodízio provou que foi a prioridade equivocada, ao menos do ponto de vista viário.

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