São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996
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Medo é maior onde a violência é menor

DA REPORTAGEM LOCAL

Os moradores dos bairros menos violentos de São Paulo, ao menos em número de homicídios, são justamente os mais preocupados com a violência.
É em lugares como Jardim Paulista, Moema, Consolação e Vila Mariana que aumenta mais a inquietação com a criminalidade. Nesses bairros, 39% dos moradores acham que a violência é o principal problema da cidade.
Na área de Perdizes (zona oeste) -que pela divisão feita pelo Datafolha congrega os distritos de Alto de Pinheiros, Lapa, Perdizes e Pinheiros-, 36% dos habitantes citam a falta de segurança como o maior problema municipal.
É o segundo percentual mais alto entre todas as 19 áreas homogêneas traçadas pelo Datafolha. Coincidência ou não, Perdizes detém o título de distrito com a menor taxa de assassinatos da capital.
Foram 2,87 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes durante o ano passado. Na Vila Mariana, a taxa foi 12,54/100 mil. Ambos os casos ficaram muito abaixo da média da cidade, que oscila em torno de 50/100 mil.
Curiosamente, os distritos onde a população se declara relativamente menos preocupada com a violência registram taxas de homicídio muito mais elevadas.
São os casos do Itaim Paulista (leste) e da Brasilândia (norte). Nessas regiões, a preocupação com a violência cai para 21% e 23%. Mas os assassinatos sobem para 60/100 mil e 61/100 mil.
Distrito campeão em número de homicídios na cidade, o Jardim Ângela ficou na área homogênea de Campo Limpo (sul).
A preocupação com a violência nessa região (29%) é dez pontos percentuais menor do que na Vila Mariana -embora sua taxa de assassinatos seja oito vezes maior do que nos bairros onde a população está mais preocupada.
Há algumas pistas para explicar a razão dessa discrepância entre indicadores de violência e grau de preocupação. Os distritos onde a inquietação é maior foram cenário de crimes cruéis recentemente.
Foi em Moema que dois jovens acabaram assassinados após o assalto a um bar da moda. É na Pompéia, bairro vizinho ao de Perdizes, que moram dois jovens acusados de atear fogo no corpo de um senhor de 73 anos, durante assalto a sua casa no Jardim Paulistano.
Nos distritos mais violentos, a preocupação com a segurança tem que dividir espaço com problemas como o desemprego -especialmente nos distritos da zona leste vizinhos do ABCD. Lá moram funcionários de indústrias que têm demitido nos últimos tempos.

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