São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996
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Lições da Ásia

LUCIANO COUTINHO

É impressionante a disparidade das taxas de formação de capital fixo (poupança) e de crescimento industrial entre os países em desenvolvimento (ver tabela acima).
É brutal o contraste entre o formidável desempenho dos países do Leste Asiático e os índices bisonhos do Brasil e da América Latina. Os países do Sul Asiático (inclusive a Índia) vêm mantendo médias razoavelmente elevadas, embora abaixo do potencial.
Mantidas essas tendências os países em desenvolvimento do Leste Asiático (tigres + China) se igualariam aos países do G-7 (em termos do PIB) em torno do ano 2020, dado que esses últimos vêm crescendo apenas em torno de 2,5% a.a. na última década.
A elevadíssima taxa de formação bruta de capital-fixo dos países do Leste Asiático sustenta o crescimento acelerado que, em círculo virtuoso, cria a poupança para financiar o esforço de inversão. Um estudo recente do Banco Mundial (East Asian Miracle, 1994) tentou explicar as razões desta notável performance e apontou para: 1) modelos de crescimento liderados pela exportação de manufaturas; 2) taxas de câmbio estimulantes e taxas de juros reais reduzidas (média de 2% a.a. na última década); 3) significativos investimentos públicos em infra-estrutura; 4) elevados índices de excelência educacional. A formação de poupanças não resulta apenas do importante esforço das famílias (inclusive via fundos de pensão), mas também da combinação dos lucros retidos (realimentados pelo crescimento) com créditos e financiamentos oferecidos a juros baixos e prazos longos. A poupança externa tem tido papel importante, mas é apenas coadjuvante do grande caudal de poupança doméstica.
O Plano Real se fixou, infelizmente, em bases que negam a essência do modelo vitorioso do Leste Asiático: câmbio gravoso, juros elevados e falta de estímulo ao alongamento do crédito e à criação de finanças industrializantes. Será necessário reorientar toda a nossa política macroeconômica e efetuar reformas de grande envergadura (restauração da capacidade de investimento público, revolução educacional) para dar consistência ao desenvolvimento. Sem isso a "3ª onda" não passará de retórica de ocasião.

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