São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996
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As formas de financiamento

LUÍS NASSIF

Como a coluna tem enfatizado, um dos aspectos mais relevantes para preparar a nova etapa de desenvolvimento será o capítulo da reorganização da poupança e dos canais de financiamento.
O secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, julga que essa redefinição já ocorreu em cinco setores -conforme exposição feita a um grupo de jornalistas, na última sexta feira.
Agricultura
O modelo de financiamento bancário estava baseado no tripé inflação, conta-movimento (pela qual o Tesouro cobria todos os gastos feitos pelo Banco do Brasil) e o próprio BB.
O mercado está mudando rapidamente. O BB está abrindo mão da quase exclusividade para a área.
O que se pretende é que o setor privado faça ele próprio o controle de estoques, por meio de mecanismos indiretos de mercado, como opções de venda ou entrega a futuro.
Para produtos exportáveis, Mendonça de Barros julga que haverá um aumento cada vez maior do papel das tradings de comércio exterior, como carregadoras de safras.
Será cada vez mais comum o que ocorreu em 96. No início do ano, o Brasil estava exportando milho. Agora, está importando.
O crédito convencional ficará cada vez mais focado na agricultura familiar.
Exportações
Sempre se reclamou da falta de um Eximbank brasileiro -organismo especializado em financiamento às exportações. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) acabou assumindo essas funções, sem a necessidade da criação de uma nova estrutura.
Crédito habitacional
Mendonça de Barros reconhece que o novo modelo ainda está engatinhando. Ele será baseado na chamada securitização de recebíveis. O construtor obtém um financiamento comercial normal para construir o empreendimento. Depois, vende para mutuários, pega os contratos de financiamento e desconta em uma agência de securitização.
Ainda há um tanto a caminhar, a começar da padronização dos contratos. Mas a fórmula já está definida.
Fundos para empresas
São fundos de investimento para aplicações em médias empresas promissoras. O primeiro deles foi um fundo regional, para investimento em empresas catarinenses. A tendência será a constituição de fundos setoriais, que poderão exercer papel relevante na reestruturação de atividades, ou no incremento de novas áreas.
Esses fundos serão cada vez mais concorridos, na medida em que caiam as taxas de juros das aplicações financeiras, acabando com a ditadura da renda fixa.
O instrumento básico desse fundo serão as debêntures conversíveis em ações -papéis que permitem aos compradores optar por receber uma remuneração fixa, ou transformar o valor em ações da empresa emissora.
Securitização
A securitização de recebíveis é um instrumento de crédito para substituir as atuais modalidades de financiamento de capital de giro. A empresa vende "commercial papers" garantidos por contratos de venda de longo prazo, ou pelo próprio nível de vendas mensais.
Um trabalho incipiente é a Sociedade de Garantia Solidária, apresentada pelo ministro do Planejamento Antonio Kandir quando deputado. Trata-se de sociedades que permitem apresentar garantias a seus membros.
Mendonça de Barros inclui nessa modalidade os Fundos Municipais de Investimento -já divulgados pela coluna.
Falta
São avanços, mas que ainda deixam a desejar.
Há a necessidade de saltos nesse processo, via transformação dos fundos sociais em fundos de investimento. O que ajudaria a acelerar e tornar irreversível esse modelo.

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