São Paulo, domingo, 1 de setembro de 1996
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Consciência e opinião

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Não apenas os leitores. Profissionais da mídia também cometem o mesmo equívoco a propósito do que seja opinião. Acreditam que os resultados eleitorais, por exemplo, sejam determinadores de opinião. E a partir desses resultados avaliam se a opinião era boa ou má, certa ou errada.
Adotar esse tipo de aferição pode ser letal ao resto de ética e justiça que ainda resistem na sociedade. Uma boa campanha de marketing, com as mesmas regras básicas que fizeram da Coca-Cola uma preferência mundial, pode eleger um bode ou um jumento para qualquer cargo representativo.
O raciocínio seria o seguinte: se 65% do eleitorado quer o bode ou o jumento na Câmara, no Senado ou na Presidência da República, contra o fato não há argumentos. Logo, o "certo" é o que pensa e deseja a maioria. Qualquer opinião em contrário é, além de errada, besteira.
Fosse assim, ainda estaríamos na caverna. Outro dia, li uma pesquisa feita entre católicos americanos sobre o casamento de homossexuais. A maioria era favorável. E, em nome dessa maioria, enviaram um "ultimatum" ao papa, cobrando-lhe uma alteração na doutrina da igreja. Afinal -lembrava o "ultimatum"-, até sacerdotes e freiras homossexuais desejavam se casar.
Acontece que, nesse particular, a opinião do papa não conta. Ele é papa na medida em que aceitou ser o depositário de um conjunto de doutrinas e tradições. Se não está de acordo com elas, deve pedir o boné e se filiar a uma ONG em Cracóvia. Para fazer os dez mandamentos, Moisés não procurou sondar a opinião de seu povo. Se o fizesse, não haveria monoteísmo: os judeus já haviam começado a adorar o bezerro de ouro.
Os fatos são fatais: apenas isso. Opinião é, antes de mais nada, a expressão de uma consciência. Acertar o escore da partida ou o resultado do jogo do bicho não fazem parte de seu universo mental e moral.

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