São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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A equação externa

CELSO PINTO

O governo anunciou ontem que o país exportou US$ 4,381 bilhões em agosto. Isso é bom ou é ruim?
Como o mercado projeta importações em torno de US$ 4,7 bilhões em agosto, o déficit no mês pode ter ficado em torno de US$ 320 milhões, o que reforçaria as projeções de um déficit entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3 bilhões neste ano. Vale a pena, contudo, olhar mais de perto onde estão os problemas.
O resultado do lado das exportações não é brilhante, mas tampouco é um desastre. Nos primeiros oito meses do ano, comparados ao mesmo período de 95, as exportações totais cresceram 5,8%.
Olhando a média de exportações por dias úteis em agosto (US$ 199 milhões), é um pouco melhor do que julho (US$ 194 milhões) e um pouco pior que junho (US$ 202 milhões). Em termos anuais, o crescimento das exportações tem-se mantido estável ao redor de 6%. O problema é que as importações tem crescido bem mais rápido.
Nos oito primeiros meses do ano, a exportação de produtos básicos cresceu 10,9%, a de semimanufaturados caiu 2,7% e a de manufaturados subiu 6,9%. Que conclusões se pode tirar?
Roberto Iglesias, assessor econômico da Confederação Nacional da Indústria (CNI), fez um exercício interessante. A exportação de semimanufaturados foi fortemente prejudicada neste ano não por queda de volume e sim de alguns preços no mercado internacional.
Iglesias multiplicou o volume de produtos semimanufaturados exportados neste ano de janeiro a julho pelo preço médio obtido por estes produtos no mesmo período em 95. A conclusão: se os preços médios não tivessem caído, a receita das exportações de semimanufaturados teria sido US$ 733 milhões superior neste ano. Ou seja, em lugar de déficit, teria havido superávit comercial até julho.
No caso dos manufaturados, a taxa de crescimento de 6,9% permite duas conclusões. Considerando que o FMI está projetando um crescimento médio de 13% nas exportações de produtos industrializados de países em desenvolvimento este ano, claramente o desempenho brasileiro é medíocre. Mas não é uma calamidade.
Em parte, os produtos manufaturados mantiveram alguma competitividade externa porque o governo, sem alarde, tem mantido uma política de desvalorização cambial em relação aos custos básicos industriais, se medidos pelo IPA-Industrial.
De janeiro a agosto, o câmbio foi desvalorizado em 4,67%, enquanto o IPA-Industrial subiu 1,55%. Como o aumento do custo interno, medido pelo IPA, em parte é compensado pelo aumento do custo nos países importadores, medido pelos seus IPAs, na prática, quase toda a desvalorização cambial de 4,67% ajudou a aumentar a competitividade.
O IPA-Industrial, é verdade, não abrange todos os custos da indústria, mas o comportamento do câmbio indica que o governo está preocupado em não deteriorar mais as exportações. Mais uma vez, o problema é que as exportações não estão crescendo tanto quanto necessário.
E quanto é necessário? Esta é a questão crucial, cuja resposta está no comportamento das importações, que praticamente não pararam de crescer desde janeiro (média por dia útil de US$ 173 milhões) a julho (US$ 213 milhões), embora o crescimento econômico tenha sido irrisório. Hoje, o patamar mensal das importações está em US$ 4,7 bilhões, mas a quanto estará com a economia crescendo a 4% ou 5%?
Os otimistas dizem que a economia já chegou a um patamar de uso de importados. Os pessimistas prevêem ainda enormes saltos. Em qualquer dos casos, o correto não é tentar segurar as importações e sim fazer as exportações crescerem o necessário para evitar um desequilíbrio perigoso nas contas externas.
Afinal, embora as importações, em termos anuais, tenham quase dobrado desde o início do Plano Real, representam algo como 8% do PIB, o que ainda é pouco comparado a outros países de dimensões semelhantes. O relevante é a corrida para elevar as exportações. A isenção do ICMS sobre exportações de básicos e semimanufaturados, pelo que indicam três projeções privadas, poderá elevar em cerca de US$ 1,2 bilhão as exportações do próximo ano. Não é o bastante".

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