São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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Reconhecimento visa 'compensar perdas'

ANDRÉA DE LIMA
DA AGÊNCIA FOLHA

O menino que está com o pescador João Bossi estaria reconhecendo em Bossi um pai para compensar um passado de intensas perdas.
Essa é a opinião do professor de psiquiatria infantil da PUC Haim Grunspun, 69, para quem o garoto usa de uma fantasia -em referência ao reconhecimento do pescador João Bossi como pai, parentesco desmentido pelo exame de DNA- para superar as perdas e traumas de sua infância.
"Com essa atitude de reconhecer um pai que não o é de fato está implícita uma atitude de tentar compensar esse passado de intensas perdas. A gente não se livra do passado. Ele marca. Mas o futuro a gente pode idealizar e fantasiar", disse Grunspun.
O psiquiatra citou informações dando conta de que o menino teve uma infância de violência, "crueldades e brutalidades".
O psiquiatra diz que a situação atual do garoto ainda é de perdas e carências, já que sua paternidade não foi definida, assim como sua situação familiar.
Futuro
No futuro, segundo Grunspun, existe uma forte tendência de Diogo continuar fantasiando.
"Se assim o for, ele não será alguém que vai trabalhar, produzir, mas viver numa eterna fantasia. Isso não significa que ele se torne um criminoso", explica o psiquiatra.
"O que ele faz hoje não é uma maldade com a humanidade, tentar encontrar para si uma situação de conforto. Ele insiste em viver em uma fantasia que para ele, e nessa idade, é muito concreta e real."
Para o psicólogo e psicoterapeuta de adolescentes Luiz Amadeu Bragante, 47, "esse menino está precisando se apoiar em alguém, em busca de um afeto desesperado".
"Ele é tremendamente carente e estaria fazendo uma fabulação para se proteger, para receber carinho e atenção de Bossi, ao reconhecê-lo como pai", diz.
"O João (Bossi) é o coitado da história, já que ele perdeu o filho duas vezes", disse Bragante, ao se referir ao desaparecimento de Leandro Bossi, há quatro anos, em Guaratuba, e à constatação de que ele não é o pai do menino registrado como Diogo Rodrigo Moreira.

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