São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996 |
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87% das crianças pedintes têm casa
ANDRÉ LOZANO
Segundo o levantamento -que ouviu 373 menores carentes-, apenas 10% das crianças abordadas disseram viver nas ruas da cidade. O restante (87%) afirmou viver com a família ou com conhecidos, e 3% não prestaram informações (veja quadro nesta página). O SOS Criança, órgão vinculado à Secretaria de Estado da Criança, Família e Bem-Estar Social, estima que 1.500 menores sobrevivam do trabalho ou de furtos em semáforos. Eles representam metade da população que efetivamente dorme nas ruas: 3.000 crianças. Segundo o coordenador do SOS Criança, Paulo Vitor Sapienza, os menores saem de suas casas -geralmente localizadas nas periferias sul e leste da cidade-, sozinhos ou acompanhados dos pais ou dos chamados "pais de rua", para pedir esmolas ou vender produtos da economia informal em avenidas "ricas" da cidade: Paulista, Rebouças, Henrique Schaumann, Brasil, 9 de Julho e Ibirapuera. Dados do SOS Criança mostram que 34% dos menores vêm da zona sul e 23%, da leste. Na zona sul, o bairro que "exporta" mais crianças é Santo Amaro. Na zona leste, São Miguel. "Pai de rua" "As crianças dos semáforos são colocadas ali pelos pais verdadeiros ou pelos 'pais de rua', que obrigam os menores a trabalhar para eles. O menor de rua, por sua vez, se sustenta com o comércio de drogas, o envolvimento no crime ou de 'bicos"', disse Sapienza. Pai de rua é a pessoa que obriga a criança carente a trabalhar ou pedir esmola para sustentá-lo. Em troca, fornece suposta proteção. "Os pais de rua chegam a arrecadar entre R$ 120 e R$ 200 por dia com o dinheiro que recebem dos menores. Há também casos de rodízio entre pais verdadeiros. Isto é, uma mãe sai de casa com seus filhos e os do vizinho para mendigar. No outro dia, é a vez da vizinha fazer isso", explicou o coordenador do SOS Criança. Arrimo de família "Muitas dessas crianças que vivem nos semáforos são arrimo de família. O problema é que, nessas circunstâncias, podem acabar se tornando menores infratores porque convivem diariamente com a violência", afirma a advogada Lia Junqueira, do Centro de Referência da Criança e do Adolescente, órgão administrado pela OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil, seção São Paulo). Para o promotor da Infância e Juventude Ebenézer Soares, "investimento em educação é a saída para retirar o menor da rua". LEIA MAIS na pág. 3 Texto Anterior: Reconhecimento visa 'compensar perdas' Próximo Texto: Vendaval mata 1 e fere ao menos 12 em Ribeirão Índice |
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