São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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A proposta para o Banespa

LUÍS NASSIF

A saída mais provável para o caso Banespa deverá ser sua incorporação pela Nossa Caixa/Nosso Banco, com auxílio do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer). E não a fusão entre os dois bancos, como chegou a ser anunciado por fontes do governo.
Há uma razão para explicar por que o governador Mário Covas anunciou a possível fusão. E uma razão para entender por que a promessa não se cumprirá.
A razão para as declarações é o fato de se estar em ano eleitoral, em um Estado onde o tema Banespa é politicamente sensível, e sua estrutura de agências e gerentes exerce influência considerável sobre o interior.
A razão para não acreditar que se vá adiante é o fato de, infelizmente, o Banespa ter se transformado em banco inviável.
O tamanho de um banco é condicionado pelo volume de ativos -ou seja, de recursos que tem emprestado.
Os ativos do Banespa chegam a R$ 28 bilhões, dos quais R$ 18 bilhões correspondem às dívidas estaduais. Mesmo sem o Estado pagar, havia a contabilização dos juros devidos, gerando a falsa impressão de lucro, que justificava a estrutura existente.
Sem as dívidas, os ativos caem para R$ 10 bilhões, dos quais R$ 3,5 bilhões em créditos considerados de difícil recebimento.
Suponha-se que o Estado capitalize o Banespa em R$ 3,5 bilhões, para cobrir os créditos podres. Permanece a situação insustentável de um banco com R$ 10 bilhões em ativos, mas com uma rede de 600 agências e 28 mil empregados.
Com 50% dos ativos do Banespa, o Safra dispõe de uma estrutura de apenas 28 agências. Com R$ 10 bilhões de ativos, a Nossa Caixa, também do governo do Estado, tem 13 mil funcionários. Só com folha e encargos, o Banespa consome R$ 180 milhões mensais -contra R$ 80 milhões do Unibanco.
Este é o nó econômico.
Análise política
Mas há um nó político.
No governo Covas, considera-se que a primeira metade do mandato foi utilizada para "fazer maldades" -ou seja, tomar atitudes impopulares, necessárias para viabilizar financeiramente o Estado.
Agora, entra-se na fase de colher os frutos.
Para viabilizar o banco, haveria necessidade de reduzi-lo em quase dois terços. Liquidar o banco provocaria desgaste grande de uma só vez. Ajustá-lo, significaria uma manifestação política a cada agência fechada.
Sem se contar o fato de o banco praticamente ter sido excluído do mercado por uma sucessão de gestões irresponsáveis, seguidas de uma gestão burocrática dos interventores do Banco Central.
Proer
Por outro lado, mesmo relegado ao abandono, o banco possui quadros de alto nível, experiência internacional, áreas de excelência.
No governo do Estado e no BC, a proposta mais concreta em estudo passa pela incorporação do Banespa pela Nossa Caixa.
A exemplo do Nacional e do Econômico, o Banespa seria dividido em dois. O banco bom receberia os ativos bons, as agências economicamente viáveis e respectivos funcionários e, provavelmente, o leasing.
O banco ruim ficaria com as dívidas incobráveis e com a dívida do Estado.
O Estado deve R$ 4,5 bilhões à Nossa Caixa. Pela idéia em gestação, seriam colocados R$ 2,5 bilhões dessa dívida no Proer. A dívida seria incluída no reescalonamento das dívidas estaduais com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. A Nossa Caixa receberia, em troca, títulos do governo federal, e teria fôlego para bancar a incorporação.
Com a incorporação, a Nossa Caixa praticamente dobraria de tamanho. Durante um ano, promoveria alterações em seus estatutos, de maneira a garantir sua profissionalização.
Na sequência, abriria o capital, indo buscar no mercado os R$ 2 bilhões necessários para completar seu capital.

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