São Paulo, quinta-feira, 5 de setembro de 1996
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Clinton tem relações tensas com forças militares

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O atual comandante-em-chefe das Forças Armadas dos EUA nunca as serviu antes de assumir essa condição. Bill Clinton, o primeiro presidente do país nascido após a Segunda Guerra Mundial, evitou como pôde ser mandado ao conflito do Vietnã.
Esse histórico, mais o fato de ter tentado logo após a posse obrigar as Forças Armadas a aceitarem homossexuais em seus quadros, tornou sua relação com os militares tensa no seu primeiro mandato.
As coisas pioraram quando, em 3 de outubro de 1993, tropas norte-americanas em Mogadício, Somália, sofreram uma das mais humilhantes derrotas da história militar do país. Diante de guerrilheiros maltrapilhos, 18 soldados dos Estados Unidos morreram e vários caíram prisioneiros.
Indecisões em relação à Bósnia e, por muitos meses, ao Haiti ajudaram a formar uma imagem ruim de Clinton como líder militar da maior potência bélica do mundo.
Mas quando resolveu agir no Haiti, Clinton se saiu bem. Graças ao trabalho diplomático de seu antecessor, Jimmy Carter, e do ex-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Colin Powell, as tropas norte-americanas tomaram o Haiti sem que tenha sido preciso disparar tiros. As únicas mortes entre as forças de ocupação ocorreram devido a suicídios.
Clinton deve mais do que o sucesso no Haiti a Powell, que serviu em seu governo por nove meses (embora tenha se registrado depois no Partido Republicano, de oposição). O presidente seguiu a doutrina militar de Powell, de usar a força só em situações pontuais, de maneira maciça e com mínimo risco de baixas, tendo como objetivo intimidar o inimigo.
Foi assim que, em junho de 1993, ele ordenou a sua primeira missão de guerra, contra o Iraque. Em retaliação a um suposto plano do governo iraquiano para matar seu antecessor, George Bush, em visita ao Kuait, Clinton mandou que 24 mísseis fossem disparados contra alvos militares em Bagdá.
Soldados norte-americanos só foram enviados para o solo da ex-Iugoslávia depois de o terreno ter sido aplainado pela diplomacia e de um acordo de paz ter sido assinado pelos líderes da região, em novembro do ano passado.
Contra a Coréia do Norte, em 1994, Clinton não precisou usar a força com o objetivo de impedir que aquele país prosseguisse seus planos de construir armas nucleares: bastou-lhe ignorar as ameaças de guerra norte-coreanas.
Quando, em março deste ano, a China tentou intimidar Taiwan, Clinton deslocou dois porta-aviões para a região e o assunto acabou esquecido.
O presidente continua sendo visto com desconfiança pela maioria dos líderes militares do país, como ficou claro durante as cerimônias em homenagem ao chefe do Estado-Maior da Marinha, Mike Boorda, que se suicidou em maio.
Vários oradores na missa de corpo presente na catedral de Washington fizeram críticas veladas à política militar de Clinton. Mas todos continuam leais a ele.
(CELS)

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