São Paulo, sexta-feira, 6 de setembro de 1996
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Godard decepciona e paralelas dão o tom

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Veneza 96 quebra a regra: enfraquece a competição no fim e abre espaço para os grandes lançamentos fora de concurso.
"Retrato de Uma Senhora", de Henry James, na versão fílmica de Jane Campion ("O Piano"), e "Last Man Standing", de Walter Hill, dominam as atenções hoje.
O primeiro trouxe a protagonista Nicole Kidman, escoltada pelo marido Tom Cruise, para a projeção noturna "hors concours" dentro da seleção oficial.
Já Bruce Willis promete desembarcar hoje para divulgar o segundo, uma refilmagem de "Yojimbo", de Kurosawa, escalado para encerrar a mostra paralela "Noites Venezianas".
A forte competição termina com "Yek Dastan-E Vagheie", do iraniano Abolfazl Jalili (leia abaixo).
Ontem, Veneza esperava Godard e viu brilhar o georgiano Otar Iosseliani. O mais provocativo cineasta da nouvelle vague rompeu a fileira de triunfos estéticos recentes com seu "For Ever Mozart".
"For Ever Mozart" é um ensaio sobre o destino violento da Europa deste século e a presente crise do cinema. Tudo gira em torno de dois eixos, quase subtramas, já que se trata do Godard mais tradicional dos últimos tempos.
O primeiro e mais breve focaliza a viagem incompleta e violenta de um casal de atores que decide ir a Sarajevo montar uma peça.
No segundo, um cineasta europeu (Vicky Messica, autêntico duplo godardiano) sofre nas mãos de produtores inescrupulosos para realizar um sucesso de encomenda chamado "Bolero Fatal".
"O filme se chama 'Bolero Fatal' porque, como digo no início de meu filme, é assim que se pode definir a história da Europa neste século", explicou Godard em entrevista coletiva.
As idas e vindas das guerras européias lembram, diz um personagem, "um patético 'Bolero' de Ravel".
E por que "For Ever Mozart"? "Mozart é um nome que evoca de pronto a música. É o compositor que mais vende no mundo", respondeu Godard.
Uma peça que não se monta, um filme que resiste a nascer e fracassa nas bilheterias, "restará a música", conclui o melancólico "For Ever Mozart".
"Brigands"
Correndo por fora, Otar Iosseliani disse a que veio. "Brigands" (Bandidos), curiosamente, coincide com "For Ever Mozart" ao tratar de violência e recorrer ao metacinema.
É uma tragicomédia quase muda que embaralha diversos momentos de truculência e despotismo da história da Geórgia, da era medieval ao presente pós-soviético.
"Brigands" parece "Underground" refilmado por Mel Brooks. A principal restrição são suas repetitivas duas horas. Diretor deveria ser proibido de montar o próprio filme. Ainda assim, Iosseliani não sai de Veneza com as mãos abanando.

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