São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
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De volta ao falso otimismo estatístico

ALOYSIO BIONDI

Periodicamente, o governo FHC tenta injetar otimismo na economia, com a utilização de estatísticas que mostram uma aparente tendência de recuperação dos negócios. Tudo inútil, pois a recessão brasileira vai continuar a avançar, como resultado de dois erros absurdos de política econômica: a destruição da produção nacional, substituída por importados, e o achatamento do poder de compra da população (salários, aposentadorias e vencimentos de servidores públicos).
Vale analisar o que está por trás das estatísticas otimistas divulgadas nas últimas semanas, numa enxurrada coincidente com véspera de eleição.
Desemprego - Diminuiu em agosto, na Grande São Paulo e outras regiões metropolitanas. Na verdade, de um total de 50.000 demitidos, nada menos de 43.000 desistiram de procurar trabalho. Com a desistência, não são considerados desempregados. Na verdade, a indústria paulista ainda continua a divulgar milhares de demissões todas as semanas.
Polianas - A redução no número de desempregados na Grande São Paulo foi noticiada sob manchetes afirmando que "o desemprego já começa a cair", dando a ilusão de tendência. Os jornais fizeram o mesmo em junho, quando houve pequeno saldo positivo na balança comercial de maio. Nos meses seguintes, o déficit voltou (como esta coluna previu, em análise sob o título "Dólar, o foguetório antes da hora".
Agravamento - Dados da associação dos atacadistas mostram que a inadimplência, isto é, o atraso nos pagamentos, por parte dos clientes (comércio varejista) saltou a partir de junho. De 3% a 4% para 12%.
Imóveis - De cada 1.000 imóveis (apartamentos e casas) lançados em São Paulo, vinham sendo vendidos de 100 a 120, em maio/junho. Em julho, o ritmo despencou para menos de 60.
Aluguéis - Até o ano passado, do total de ações de despejo por falta de pagamento, apenas uma em dez se referia a imóveis alugados para fins comerciais (lojas, clínicas, escritórios, academias etc.). A participação saltou para cinco em dez, isto é, 50% do total. Um termômetro precioso sobre a saúde das empresas. Melhor até do que o número de falências e concordatas requeridas ou decretadas.
Em julho, aluguéis de casas e apartamentos caíram 25% em São Paulo, chegando aos 50% em alguns bairros.
Falências - O número de falências requeridas em agosto em São Paulo avançou novamente, para 1.380, contra 1.300 em junho, que já acusara aumento de 6% sobre junho. São números recordes, sempre.
Indústria - No final da semana, divulgou-se que a indústria cresceu em julho, graças principalmente a um salto nas vendas, item que tem um grande "peso" no cálculo do desempenho industrial. O avanço, de 8%, apenas compensa a queda de 7% de junho. Pior: está totalmente distorcido pelas vendas da indústria automobilística (à sua rede de revendedores), que havia reduzido violentamente a produção em junho, para algo como 110 mil carros, e voltou ao nível de 140 mil em julho.
Pior ainda: essas "vendas" da indústria também são falsas. As revendedoras são obrigadas a aceitar determinado número ("cotas") de carros -mesmo que não consigam revendê-las. Em agosto, as vendas ao consumidor continuaram fracas, e o estoque nas lojas subiu de 89 mil para 101 mil nas revendas.
A inflação? - Com a retração dos negócios, empresas estão cortando preços para "fazer caixa", vendendo com prejuízo, e caminhando para a quebradeira. Por isso, não há motivo para festejar a violenta queda nas taxas de inflação. O Brasil caminha para a inflação negativa, isto é, a deflação. Fruto da recessão e desemprego.

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