São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sul-coreanos chegam com investimento

Presidente desembarca na terça

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O presidente da Coréia do Sul, Kim Young-sam, desembarca terça-feira no Brasil, trazendo uma comitiva de 40 pesos pesados do empresariado sul-coreano e projetos de investimentos que, só no caso da Hyundai Corporation, chegam a US$ 1,7 bilhão.
A Hyundai é mais conhecida, no Brasil, pelos veículos que produz, mas seu campo de ação é muito diversificado, a ponto de planejar US$ 500 milhões em investimentos só para ter participação na Vale do Rio Doce, a ser privatizada.
Investir no exterior está se tornando um imperativo de sobrevivência para as empresas coreanas, acossadas internamente pelo alto custo da produção, em parte decorrente de uma explosão salarial.
Com ela, explodiu também o consumo, o que se torna visível a olho nu na Rodeo Drive, avenida de Seul (capital) que tenta copiar uma das mais sofisticadas ruas de Los Angeles, com o mesmo nome.
A sofisticação é tanta que os cafés, em vez de cadeiras como as de qualquer café do planeta, exibem espaçosas poltronas, e a "lingerie" pode custar até 2 milhões de wons, o equivalente a US$ 2.500.
A hora do consumo
É na Rodeo Drive que a juventude dourada coreana exercita, para irritação dos mais velhos, o "kwasobi", o consumismo incontido.
Há quem culpe o "kwasobi" pelos problemas comerciais da Coréia do Sul nos anos recentes (desde 1990, o país importa sistematicamente mais do que exporta).
Exagero. Bens de consumo, como as "lingeries" de US$ 2.500, representam apenas 10% das importações sul-coreanas.
O grosso das importações continua sendo de matérias-primas e bens de capital que as indústrias transformam em bens de exportação, com incentivos fiscais.
Aí, sim, há um nó estrutural: a Coréia do Sul se tornou, de um lado, muito dependente da importação de partes e componentes, e de outro, viu reduzir-se a competitividade internacional de seus produtos de exportação.
No caso dos pioneiros da industrialização (têxteis, calçados etc), a competitividade simplesmente evaporou-se. Em 1965, no início da decolagem, indústrias leves como essas ocupavam 48 posições na lista das 100 maiores empresas sul-coreanas. Agora, são apenas 3.
Acrescente-se a esses fatores o aumento dos salários e dos custos de produção, um mercado financeiro fechado e ineficiente e um excesso de regulamentos. Está montado o cenário para um déficit externo, na conta corrente, de US$ 9,2 bilhões no primeiro semestre deste ano, o mais alto da história para um período de seis meses.
Para o rombo, contribui principalmente o déficit comercial (as importações superaram as exportações em US$ 5,2 bilhões no período), mas ajudou também, aí sim, outra versão do "kwasobi", as viagens ao exterior.
Entre os que os turistas gastaram na Coréia do Sul e o que os coreanos gastaram no exterior, a diferença é de US$ 1,17 bilhão.
Por isso, é provável que, se o presidente Fernando Henrique Cardoso quiser discutir com seu colega o "custo Brasil", vai encontrar ouvidos treinados ao tema, no caso o "custo Coréia do Sul".

Texto Anterior: Mao viveu enganado pelo otimismo
Próximo Texto: Reunificação pode custar mais de US$ 3 trilhões
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.