São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Exemplo a ser seguido

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Visitei Carajás nos dias 30 e 31 de agosto. Fiquei impressionado com o que vi: uma empresa estatal dando lições a muitas empresas privadas.
A Cia. Vale do Rio Doce apresenta em Carajás, diariamente, um verdadeiro show de racionalidade. Mostra que sabe competir. Afinal, há 50 anos que o minério de ferro não aumenta de preço (cerca de US$ 17 por tonelada). Apesar disso, a empresa ampliou sua produção e aumentou seus lucros.
É pena que poucos conheçam Carajás. A extração do minério é toda informatizada, gerando enormes economias para a empresa. O transporte é feito em veículos gigantescos e trens que rodam 24 horas por dia e 365 dias por ano.
As instalações para os empregados são de primeira. A qualidade de vida, das mais altas. Boas escolas; saúde bem cuidada; lazer sadio e, sobretudo, muita educação dos cidadãos que ali vivem. Não vi um papel na rua. Pobre São Paulo!
Muitos me perguntam: por que privatizar a Vale? A resposta é difícil. Possuímos a maior reserva de minério de ferro do mundo e consideráveis quantidades de minério de cobre, manganês e ouro. Eles estão sendo bem explorados e com total respeito à natureza. O negócio é bom e está dando lucro.
Mas a privatização foi marcada. Não se sabe quem vai ganhar. A Vale é o filé mignon das estatais. O seu preço será necessariamente elevado. Duvido que haja força nacional capaz de adquirir o valioso patrimônio da empresa. Os estrangeiros deverão entrar. E, com eles, alguns bancos de negócios. Todos com um grande apetite.
Não tenho nada contra bancos e capital estrangeiro. Ao contrário, eles podem trazer recursos, tecnologia e modernização administrativa. Mas a Vale não está precisando de empréstimos vultosos. E, nos campos tecnológico e administrativo, o que vi ali, repito, foi um espetáculo de eficiência.
Será lamentável se os compradores entrarem no processo apenas para fazer negócio, comprando hoje e revendendo amanhã. Penso que o Brasil precisa de empreendedores que tenham um coração que pulse em favor da nação, do emprego dos brasileiros e da renda dos que aqui trabalham. Gente disposta a compartilhar do sofrimento dos que começam do zero.
Como a privatização vai sair, só resta a esperança de que grupos nacionais entrem na competição -empresários que tenham experiência profissional comprovada no setor, interessados na produção e não meramente na especulação. Chega de intermediários.
Nesse sentido, foi bom saber que um lote de ações será reservado para os funcionários. Nada mais acertado. Afinal, eles são a alma da Cia. Vale do Rio Doce. Eles é que garantem a eficiência em um ramo que não é monopólio e sempre esteve sujeito a uma acirrada competição.
Tenho certeza que dentro deles há o coração que bate em favor do Brasil. O governo precisa estar atento para evitar mais uma jogada especulativa, como já ocorreu em outras privatizações.

Texto Anterior: Baleias e coxas
Próximo Texto: Republicanizar a República
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.