São Paulo, segunda-feira, 9 de setembro de 1996 |
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Mostra no Rio exibe africanos recentes
CRISTINA GRILLO
Onze filmes da recente produção cinematográfica africana serão exibidos no Rio durante a Mostra Internacional de Cinema -ex-mostra Banco Nacional- entre os próximos dias 19 e 30 de setembro. "Imagens da África", nome da mostra, pretende preencher uma lacuna: informar o público brasileiro sobre o que acontece no continente. "Se estou em Londres, consigo ver filmes africanos. Aqui, não encontro nada", diz Vik Santos, uma inglesa radicada no Brasil há 20 anos, que fez a curadoria da mostra. Vik explica o critério de seleção usado para organizar o minifestival: "procurei filmes de diretores reconhecidos internacionalmente, apesar de desconhecidos aqui". Assim foi feita a escolha de "Waati" ("O Tempo"), de Souleymane Cissé. O diretor, nascido em Mali, foi o primeiro africano a ganhar um grande prêmio internacional. Seu filme "Yeelen"("A Luz") foi o vencedor do Grande Prêmio do Júri de Cannes em 1987. Cissé, jurado do Festival de Veneza este ano e um dos convidados para a mostra brasileira, mostra em "Waati" o rito de passagem de uma menina sul-africana, obrigada a deixar o país depois de atirar num policial que matou seu pai. "Cissé mostra uma África influenciada pelos brancos, com a marca do apartheid", explica a curadora. O cineasta Flora Gomes, de Guiné Bissau, também é reconhecido fora dos horizontes africanos. Em "Os Olhos Azuis de Yonta", Flora conta a história de uma paixão que se desenvolve entre os escombros de uma capital destruída pela guerra. As tradições locais e os confrontos com o ponto de vista europeu são uma marca constante nos filmes selecionados. "Essa geração de cineastas africanos surge a partir das guerras de libertação de seus países", diz Vik Santos. Por isso, os filmes são "engajados". A curadora explica que grande parte dos cineastas africanos fez sua formação em escolas de cinema na ex-URSS ou em Cuba. "Cissé e Gomes passaram por isso, Cissé em Moscou e Gomes em Havana. Daí a importância da discussão política em seus filmes", afirma. Abderrahmane Sissako, da Mauritânia, é outro cineasta formado pela escola moscovita. Mais jovem que Cissé, seu cinema é menos engajado, mas não menos crítico. Em seu média-metragem "Octobre", Sissako usa sua experiência como estrangeiro em Moscou para contar o romance proibido entre uma jovem russa e um estudante africano. O preconceito sofrido numa sociedade fechada e vigiada é reproduzido num filme quase sem diálogos. Sissako apresentará também o curta "Le Jeu", sobre um grupo de crianças que vê o pai guerrilheiro sair de casa para encontrar a morte. Mas nem tudo é engajamento político na mostra "Imagens da África". "Un Été à La Goulette", do tunisiano Ferid Boughedir, é uma comédia que brinca com as tradições do país e fez sucesso na França. Boughedir conta a história de três meninas que, enfrentando a tradição da manutenção da virgindade até o casamento, apostam perdê-la antes do fim do verão. A surpresa do filme fica por conta de uma participação especial de Claudia Cardinale. Tunisiana, a atriz faz seu primeiro filme em seu país natal. Boughedir é o recordista de participação na mostra. Além de "Um Été à La Goulette", dois outros filmes seus serão exibidos: os documentários "Camera D'Afrique" e "Camera Arabe". A mostra "Imagens da África" apresenta ainda "Guelwaar", do senegalês Ousmane Sembène -diretor do primeiro filme profissional feito na África, em 1966, e considerado uma espécie de mentor dos cineastas do continente. "Hyenes", do também senegalês Djibril Diop Mambety; "Macadam Tribu", do zairense José Laplaine (que fez uma participação como ator em "Terra Estrangeira", de Walter Salles e Daniela Thomas); e "Samba Traore", de Idrissa Quédraogo, diretor de Burkina Fasso, completam a mostra. Texto Anterior: Hermeto Paschoal ganha primeira biografia Próximo Texto: Todo mundo nu no Xingu Índice |
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