São Paulo, segunda-feira, 9 de setembro de 1996
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Elifas Andreato faz balanço da carreira

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Elifas Andreato, o artista plástico mais visível no dia-a-dia de um brasileiro, lança "Impressões", livro de memórias que traz um balanço de sua carreira.
Muitos têm em casa um Elifas sem saber, seja na capa de um livro, disco ou revista. Se não têm, já viram, como nos logotipos da Secretaria da Cultura do Estado e do Festival de Inverno de Campos de Jordão.
Paranaense de origem pobre, Elifas esteve sempre presente em momentos de virada da cultura brasileira.
Autodidata, presenciou a modernização do parque gráfico brasileiro, quando foi um dos responsáveis pela revalorização da ilustração na imprensa.
Militante da AP (Ação Popular), organização de esquerda, Elifas largou, nos anos 70, a carreira em ascensão e passou a priorizar o engajamento político de seu trabalho.
Participou dos projetos gráficos dos jornais "Opinião" e "Movimento". Fez capas de disco para Chico Buarque, Elis Regina, Paulinho da Viola e Martinho da Vila, assim como capas de livros e cartazes de peças de teatro, muitos indeferidos pela censura.
Nas capas que faz, seu nome acompanha o do autor (ou compositor), como uma grife. "Sempre dou minha opinião com minha ilustração. É uma coisa de que não abro mão", diz.
O livro "Impressões" (editora Globo) é acompanhado de textos do próprio artista e de Fernando Henrique Cardoso, Rita Lee, Chico Buarque e outros. A noite de autógrafos é hoje, às 20h, na Cervejaria Continental (rua Haddock Lobo, 1.563).
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Folha - Tem-se a impressão de que você sempre esteve no lugar certo, na hora exata. Como conseguiu participar dos momentos mais importantes da cultura brasileira?
Elifas Andreato - Não foi fácil. Na época do "Opinião", por exemplo, fiquei dois anos sem dormir às sextas-feiras. A censura estava na redação, e eu tinha de fazer várias capas, até uma ser liberada. Depois que revi meus trabalhos para o livro é que notei como minha vida está ligada à história do Brasil.
Folha - Sua carreira foi pautada pelo momento político?
Andreato - Eu fazia clandestinamente o jornal da AP. Era uma contradição, pois eu vim de família pobre, e quando comecei a ganhar dinheiro na Abril, larguei tudo para ter uma vida clandestina. Eu não queria apenas desenhar, mas participar.
Folha - Seu trabalho era voltado para a denúncia política?
Andreato - Percebi que havia espaço para denúncias e metáforas, recuperando a ilustração caricaturista.
Folha - Por que a constância do palhaço na sua obra, é assim que vê o brasileiro?
Andreato - Vamos nos divertir sofrendo muito; é assim que resumo o artista brasileiro. Adoro os palhaços. Já fui patrono do dia do palhaço. Uma vez, cheguei a sair por São Paulo de palhaço. Fui ao banco, restaurante, andei pelas ruas. As pessoas gritavam, se afastavam.
Folha - Seu trabalho é muito requisitado?
Andreato - É raro uma gravadora ou editora me chamar. É sempre o autor ou o músico que me chama. Fico um tempo com eles, no estúdio, tomando cerveja, e num papo no carro descubro o que o sujeito está pensando. Sou um acessório que deve descobrir a síntese correta. É uma parceria. Antigamente, nem discutia o preço. Fazia porque tinha de fazer. A maioria foi de graça.

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