São Paulo, quarta-feira, 11 de setembro de 1996
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Mostra reúne 'Águas-Vivas' de alabastro

CEM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O alabastro é uma rocha pouco dura, muito branca e translúcida, que só pode ser encontrada 150 metros abaixo do solo.
Essa pedra é a matéria-prima das esculturas que Maria Carmen Perlingeiro mostra, a partir de hoje, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud.
A exposição "Água-Viva", composta por 12 peças, mostra o que a carioca radicada em Genebra, Suíça, produziu com 400 kg de pedra.
A própria artista modela as "montanhas" de rocha que ela busca na Toscana, na Itália.
Quando abandonou a arte conceitual para se dedicar às esculturas, influenciada sobretudo pelos mármores de Sérgio Camargo, passou por oito anos de "corpo-a-corpo" com os blocos de pedra para tomar as rédeas da produção escultórica.
Apesar disso, parodiando o grande artista florentino Michelangelo Buonarroti, Maria Carmen Perlingeiro diz que "as esculturas já estão dentro das pedras".
Fragilidade do vivo
Perlingeiro diz que "o alabastro parece ter vida". E a intenção da escultora é extrair do mineral "a fragilidade do que é vivo".
Como indica o professor de semiótica Michael Jakob em comentário à obra da artista, o alabastro possui uma "translucidez surpreendente e uma dureza relativa. Tudo nele parece sugerir a matéria viva sob a epiderme".
Outro componente marcante na obra de Perlingeiro é a discussão acerca do tempo. Suas "águas-vivas" afirmam que "a memória pode ser feita de alabastro".
Como contraponto, a artista esconde na superfície de seus trabalhos uma fina camada de humor. A graça das peças da artista não provoca o riso histriônico.
Ela está na descoberta de objetos como uma pá e uma calçadeira, um chinelo, ou um fole e uma viola, nas imponentes esculturas minerais.
Mesmo em trabalhos como o delicado "Soupir", suspiro em francês, a artista consegue fundir as imagens do doce de clara de ovos com a angústia da lágrima de uma pessoa que suspira de saudades.
Prêmio Uni Dufour
Recentemente, Maria Carmen Perlingeiro foi vencedora do prêmio internacional "Uni Dufour", de reurbanização do edifício-sede da reitoria da Universidade de Genebra.
Seu "Projeto Vegetal" foi o escolhido por um júri composto por nomes como Mario Botta e Richard Meier entre 249 esboços de intervenções artísticas.

Exposição: Maria Carmen Perlingeiro - Águas-Vivas
Quando: hoje, às 20h. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Até 4 de outubro
Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud (r. Artur de Azevedo, 401, tel. 883-6322, fax 883-6114) Quanto: obras de US$ 8.000 a US$ 50.000

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