São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996
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Estatização e dívida externa marcaram era

DA REDAÇÃO; DA REPORTAGEM LOCAL

O principal fato que marcaria o governo Geisel (15 de março de 74 a 15 de março de 79) na área econômica ocorreu antes de sua posse.
No final de 1973, o preço do petróleo quadruplicou no mercado internacional, fruto da organização dos países produtores.
Dependente da importação de petróleo, o Brasil recebeu um duro golpe. A balança comercial, que registrara superávit de US$ 7 milhões em 73, fechou 74 com déficit de US$ 4,6 bilhões.
A crise energética acrescentou um problema para a crise estrutural que o país vivia. O rápido crescimento no início da década levou ao limite a capacidade da infra-estrutura de acompanhar as necessidades da economia brasileira, que exigia investimentos em transportes, comunicações e indústrias de base, por exemplo.
Chefiado por João Paulo dos Reis Velloso, ministro do Planejamento de Geisel, o 2º Plano Nacional de Desenvolvimento, que visava resolver as questões estruturais, teve de incorporar a crise do petróleo.
Daí são criados o Proálcool e o programa nuclear, dentro do plano de substituir importações. Surgem estatais nos setores petroquímico e siderúrgico. Telebrás, Eletrobrás e Petrobrás passam a gerir uma rede de infra-estrutura.
O PND dividia em três partes a origem dos investimentos: um terço do setor público, um terço do setor privado nacional e um terço de dinheiro estrangeiro.
Para financiar o crescente déficit e o PND, o governo e setor privado recorreram a empréstimos externos a juros flutuantes.
Com a escalada dos juros no final da segunda metade da década de 70, o Brasil chega a 79 com uma dívida externa de US$ 49,9 bilhões. Em 1973, era de US$ 12,6 bilhões.
Herança
Ao final do governo Médici, os números oficiais pintavam um Brasil com poucos problemas. Delfim Netto, seu ministro da Fazenda, pisou no acelerador, chegando aos 14% de crescimento em 1973, o dobro da média histórica.
Segundo nota o economista Dionísio Dias Carneiro, da PUC-Rio, foi um "cenário apoteótico", para enfeitar o fim de um período de máxima repressão.
O cenário, porém, não se sustentava, pelo menos no entendimento de Mário Henrique Simonsen, o ministro da Fazenda de Geisel.
Logo de início, Simonsen mandou reestimar a inflação de 73, passando-a para 26,6%. Seu argumento: os 12% haviam sido obtidos com a apuração dos preços que constavam das tabelas oficiais.
O tabelamento generalizado havia sido aplicado por Delfim para conter pressões inflacionárias. Mas os preços efetivamente praticados estavam acima das tabelas.
Com base nos preços reais, a inflação chegou aos 26,6%. O Banco Mundial também reestimou, chegando a 22,5%.
Os números tinham significado político. Diante dos 12% oficiais, a inflação do primeiro ano de Geisel, 27,6%, era um salto enorme. Com a reestimativa, só se mantinha alta.
Ou seja: além da crise do petróleo e do ajuste estrutural, Geisel teve de enfrentar a herança do superaquecimento e da alta da inflação do governo Médici.
Pode-se dizer que o governo hesitou entre os dois caminhos, representados pelos dois ministros da área econômica: Simonsen, pela estabilização, e Reis Velloso, do Planejamento, pelo ajuste.
O problema, entretanto, não era só econômico, mas também político. Geisel chegou ao poder numa ação contra a "linha dura" do regime e precisaria de apoio político.
Como Reis Velloso disse à Folha: "A recessão levaria a uma crise política. O país vinha de um crescimento forte; se fosse a zero, seria um enorme desastre".
Pode-se dizer que, no início, Geisel deu uma chance a Simonsen. Houve uma desaceleração no fim de 74 e início de 75, mas de novo a situação política influiu.
Em 74, o MDB (oposição) venceu as eleições parlamentares. Em 75, empresariado e imprensa protestavam contra a recessão.
Pressionado, Simonsen estimulou a economia. Geisel optou pelo ajuste. Assim foi até o fim, com surtos de contenção da inflação.

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