São Paulo, sábado, 14 de setembro de 1996
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Cidade que criou o 'Fura-Fila' diz que projeto é inviável e vai abandoná-lo

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ESSEN

A cidade alemã que criou o "Fura-Fila" vai abandonar o projeto em três ou quatro anos por inviabilidade econômica.
O "Fura-Fila" é um híbrido de ônibus e bonde capaz de andar em trilhos especiais ou livremente nas ruas. Uma versão do projeto é promessa do candidato a prefeito Celso Pitta (PPB) para resolver o caos no trânsito de São Paulo.
Mas a cidade de Essen, no rico vale do Ruhr (noroeste alemão), está desistindo do seu "Spurbus" (ônibus guiado, em alemão).
"O fato é que ficou provado que o bonde elétrico é o meio de transporte mais barato e funcional para nossa cidade", disse à Folha o gerente interino de relações públicas da empresa de transportes de Essen, Detlef Feige.
Para Feige, o excesso de reclamações de usuários, custo de manutenção alto e problemas técnicos vão encerrar o trabalho do "Fura-Fila" alemão.
Essen, cidade de 624 mil habitantes, tem fluxo de 300 mil pessoas por dia em seu sistema de transporte. Cerca de 15 mil usam o "Fura-Fila" local, que cobre 8,8 km dos 315,9 km servidos pelas redes de ônibus. A maioria, porém, opta pelo bonde -cuja malha de trilhos exclusiva cobre 51,1 km.
O metrô paulistano transporta 2,5 milhões de pessoas por dia útil, em 43,6 km, numa população superior a 12 milhões de pessoas.
No caso de Essen, a opção pelo "Fura-Fila" visava aproveitar a malha de linhas eletrificadas e túneis já existente. Os trilhos específicos ainda hoje estão em teste.
O principal problema enfrentado pelos usuários, e que a Folha comprovou em um passeio comparativo de ônibus e "Fura-Fila", é o atraso (leia texto nesta página).
"O motivo principal é o problema na hora de o veículo entrar na linha eletrificada", disse Feiger. "São 40 quebras por semana."
O defeito ocorre quando o "Fura-Fila" -que quando anda livremente usa motor a diesel- tenta encaixar suas "antenas" (semelhantes às de trolebus) na linha eletrificada para usar túneis destinados a bondes subterrâneos.
Além disso, há o custo. Cada "Fura-Fila" custa hoje entre US$ 500 mil e US$ 650 mil, transportando 64 passageiros.
Um bonde, que leva até 110 pessoas, custa US$ 200 mil e não depende de combustível fóssil -poluente não-renovável e caro.
No caso de Essen, soma-se a isso a necessidade de construção de duas subestações de energia. As existentes para os bondes não suportaram a sobrecarga.
"Mas tudo isso não significa que o projeto seja um fracasso", diz Feige. Ele lembra que Leeds e Ipswich (Reino Unido), Adelaide (Austrália) e Mannheim (Alemanha) importaram a experiência.
Segundo o gerente, há projetos sendo estudados na Rússia, China e República Tcheca. Em relação ao Brasil, disse não ter sido consultado formalmente.
"Vieram umas pessoas aqui, pediram dados e gravaram umas cenas no começo da semana. Alguém também entrevistou Helmut Bser, que trabalhou no projeto, mas se aposentou no ano passado", disse Feige.
Bser apareceu defendendo o "Fura-Fila" no programa de Pitta.
O projeto surgiu em 1980, com pesquisa subsidiada pelo governo federal em conjunto com a Evag (Essener Verkehrs-Aktien Gesellschaft, ou Trânsito de Essen S/A). Consumiu milhões de marcos em investimentos.
Hoje há 24 veículos rodando ainda em caráter experimental em Essen. A cidade tem também 237 ônibus comuns e 87 bondes.

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