São Paulo, sábado, 14 de setembro de 1996
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Eleazar de Carvalho regia com emoção

DIOGO PACHECO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Perdôo todos que acredito terem me magoado" foi uma das últimas frases pronunciadas por Eleazar de Carvalho antes de morrer.
O maestro pertence, sem dúvida, à geração dos regentes que ainda fazem chorar. Sua extraordinária técnica de conduzir orquestras estava sempre a serviço da emoção, coisa rara hoje em dia em que a informatização quase que torna a arte uma coisa fria, tecnicamente perfeita, mas fria de emoção.
Nunca vou me esquecer das lágrimas de Eleazar ao terminar de reger a Primeira Sinfonia, de Brahms, ou quando, no Teatro Municipal de São Paulo, dirigiu a Sexta Sinfonia "Patética", de Tchaikovsky, em homenagem ao seu professor Sergei Koussevitzky.
Tanta era sua admiração pelo seu mestre que ele até deu seu nome a seu segundo filho, Sergei, a quem confidenciou aquelas palavras iniciais.
Para mim Eleazar não morreu, nem nunca morrerá. Ele permanece nas sementes que plantou, como ele gostava de dizer. Em seus alunos, nas orquestras que fundou, nos festivais que criou, na disciplina que implantou por onde passou, sempre com um rigor ferrenho deixando sua marca ao pronunciar uma única palavra.
Incentivo
Isso sem falar no respeito que sempre conseguiu de todos, pela solidez de seu conhecimento e pela fantástica cultura musical.
Impossível esquecer também o incentivo que sempre deu à criação musical brasileira. Inúmeras primeiras audições de obras de compositores nacionais foram mostradas ao público.
Ele também foi o único maestro que regeu (de cor) todas as oito óperas de Carlos Gomes, cujo centenário da morte coincide com o falecimento de Eleazar.
Só quem conheceu Eleazar na intimidade pode entender com clareza as primeiras palavras desta homenagem e quase últimas pronunciadas por ele.
Embora parecesse algumas vezes agressivo ou pouco delicado, o perdão sempre o engrandeceu. E uma de suas maiores grandezas foi ter abandonado uma carreira de regente nunca antes atingida por um sul-americano, para tentar implantar no Brasil uma orquestra e uma escola de primeiro nível.
Que seu colega de tantos anos Leonard Bernstein o receba no céu de braços abertos.

O maestro Diogo Pacheco é sub-regente da Orquestra Sinfônica do Estado.

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