São Paulo, sábado, 14 de setembro de 1996
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CD póstumo revela rock pós-Aids de Lory F.

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

A gaúcha Lory Finocchiaro gravou seu primeiro disco nos meses iniciais de 1993, já em estado avançado de Aids. Morreu em agosto daquele ano, aos 35, e só agora chega ao mercado "Lory F. Band", seu último disco.
Lory F. eterniza-se, assim, como representante brasileira da geração pós-Aids de roqueiros.
Como seus ídolos confessos -David Bowie, Lou Reed, Patti Smith (sua predileta, segundo texto que fez para o encarte)-, mergulhou fundo no círculo rock/sexo/drogas; ao contrário deles, não teve tempo de envelhecer -nem de ficar famosa.
"Pessoas como Lory foram visionárias, as mais importantes dentro da sociedade. Ela usava cocaína nos canos, dançou por isso. Mas usava para criar", afirma a também cantora Laura Finocchiaro, que desde 1993 tentava lançar o único registro em estúdio da irmã.
A Aids foi, em parte, musa inspiradora do CD. "Lory sempre esteve envolvida com a música, havia sempre uma banda de rock na garagem de casa", conta Laura.
"Mas foi quando soube que era portadora, em 88, que caiu na real, que precisava registrar seu trabalho. Todo seu esforço foi dirigido para isso."
Não lhe faltaram acompanhantes para a gravação. "Formava fila de músicos pra tocar com ela. Havia um fio sem fim em Porto Alegre com essa geração", diz.
O fio incluiu a Aids, também -Marcio Ramos, guitarrista da F. Band, morreu em 1994.
As gravações não foram fáceis, diz Laura: "Foi no período terminal, mesmo. Ela chegou a cantar com 30 kg, no inverno, sem força para pegar uma garrafa d'água".
Quando morreu, faltavam ser mixadas três faixas. "Um dia depois da sua morte, eu já estava no estúdio mixando", conta Laura.
Mas só em 96 o disco aconteceu, com apoio da Prefeitura de Porto Alegre e o interesse do selo independente Cogumelo (do Sepultura), que liberou todos os royalties.
Segundo Laura, 20% vão para a produção, 30% para a entidade assistencial Vita e 50% para o filho de Lory, de 17 anos.
Laura Finocchiaro prossegue seus esforços: fechou acordo com o Centro Cultural São Paulo para promover, entre 25 e 27 de outubro, show-tributo a Lory, com Nasi (do Ira!), Taciana, P.U.S., Marcelo Nova, Matoli e outros.
No tempo que lhe sobrou de tudo, Laura finalizou seu segundo disco, em fase de masterização e negociação com gravadoras para o lançamento.

Disco: Lory F. Band
Lançamento: Cogumelo/Velas
Quanto: R$ 18, em média

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