São Paulo, sábado, 14 de setembro de 1996
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Para envergonhar mais

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Da instigante conferência sobre desenvolvimento patrocinada pelo BID em Washington, no início do mês, vale resgatar trechos da palestra do professor norte-americano Albert Fishlow, hoje pesquisador do Conselho de Relações Externas.
Fishlow defendeu a reforma agrária como um dos instrumentos primários para reduzir a "extraordinariamente desigual" distribuição de renda na América Latina, "a pior do mundo".
Diz que há poucas dúvidas de que a alta taxa de desigualdade pode ser atribuída "à taxa ainda mais alta de desigualdade na distribuição de terras" na região, fenômeno que vem do século 19 ou é até anterior.
O especialista constatou que uma alocação mais justa da terra pode servir como importante estímulo para um desenvolvimento sustentável. E lamentou que a reforma agrária parece "aguardar guerra ou revolução" para se impor.
Chegou ao extremo de dizer que, embora a doutrina comunista estrita não funcione, "suas medidas redistributivas iniciais servem como poderoso instrumento equalizador".
Fishlow está longe de ser de esquerda. Acha que a recuperação do crescimento latino-americano exige "estabilidade e uma economia aberta e competitiva". Mas exige também "um papel mais restrito, mas ainda crítico, do setor público".
Completa: "Uma das grandes tragédias (dos anos 80) não foi apenas a pobre performance econômica da região, mas também as correspondentes reduções nos gastos governamentais, que machucaram mais os mais pobres".
Consequência inevitável: os latino-americanos de renda mais elevada puderam pagar por saúde, educação e outros serviços privados, "o que aprofundou a brecha inicial entre os que têm e os que não têm".
O resumo da palestra não está em alguma publicação de esquerda, mas no endereço da Usia, a agência oficial de notícias dos EUA, na Internet.

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