São Paulo, sábado, 14 de setembro de 1996
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Inflação baixa, crescimento medíocre

ANTÔNIO CORRÊA DE LACERDA

O cenário básico da economia brasileira para este ano já está definido, sendo o dado mais significativo a baixa inflação (de 10% a 12% na média dos índices). Em contrapartida, teremos um crescimento medíocre, em torno de 2,5%, o que, aliás, economistas bem-informados já vinham apontando havia muito tempo, e só agora o governo reconhece.
O fato é que a política econômica em vigor criou uma restrição ao crescimento sustentado da economia. A âncora cambial e os elevados juros são eficientes no combate à inflação no curto prazo, mas destroem a economia nos médio e longo prazos.
Ao sacrificar o crescimento econômico deste ano, o governo quis evitar um desastre maior na balança comercial e seu impacto nas contas correntes. Mesmo assim, vamos fechar com um déficit comercial acumulado superior a US$ 3 bilhões.
No tocante aos juros, este tem sido um dos fatores da extraordinária expansão da dívida pública, que no âmbito federal triplicou depois do Plano Real e já atinge cerca de R$ 160 bilhões. Na outra ponta, juros elevados restringem os investimentos produtivos, que, na melhor das hipóteses, fecham este ano em 16,5% do PIB, muito aquém do que o país precisa para garantir o crescimento.
Portanto em que medida o debate sobre a reeleição pode afetar a economia? No curto prazo, muito pouco, já que o cenário básico está definido. No médio e no longo prazos, poderia influir na discussão e votação das tais reformas, que tornaram-se nos últimos anos a "salvação" dos nossos problemas, a exemplo do que foram no passado a Constituinte, as eleições diretas e outros avanços importantes, mas que, por si só, não têm a capacidade de resolver problemas.
Está cada vez mais claro que a estrutura da nossa economia precisa ser adaptada ao cenário inexorável da globalização. Isso inclui o Estado, a questão fiscal, a previdência, sistema financeiro e outros. Aliás, temas sobre os quais em muitos casos nem sequer há projetos convincentes tramitando no Congresso. Também é assunto que não deve ser encarado como estático, mas um processo dinâmico e permanente.
Na verdade, a aprovação (ou não) das reformas não substitui a prática da gestão, que deve ser o exercício diário de quem governa. A discussão econômica, por sua vez, não pode estar dissociada das questões políticas, mas não deve se restringir ao curto prazo.
Afinal, está cada vez mais evidente que uma inflação em baixa é um ganho para a sociedade, mas ela não pode ocorrer em detrimento do crescimento, que é a única garantia da estabilidade (em nível mais amplo) e do desenvolvimento, o que até mesmo o sepulto "Consenso de Washington" já reconhece! Amém.

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