São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 1996
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O vale-tudo vai começar

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro -Está aberta, agora oficialmente, a campanha político-eleitoral-financeira para aprovar a reeleição. Ao contrário do que dizem o presidente da República e toda a corte nele pendurada, não é o povo que está clamando pela beatitude de ter o atual bando no poder por mais tempo.
É o próprio FHC o principal interessado em promover a reforma constitucional que o beneficiará nominalmente, uma vez que a medida será proposta em caráter de emergência e não de princípio. Tanto é emergencial que, acoplada à campanha da reeleição pura e simples, está a reforma do regime presidencialista.
Para o grupo que se encastelou no poder, vale tudo, inclusive o parlamentarismo, que, por sinal, foi rejeitado em recente plebiscito. Isso! -para a vontade do povo.
Tanto a reeleição como o parlamentarismo são práticas saudáveis, pessoalmente sou até favorável a elas, mas não da forma golpista e individualizada com que está sendo tramada.
Por melhor, por mais eficiente, bacana, divino e maravilhoso que seja um governante, ele está impedido pela ética, pela moral e pelos bons costumes de promover o benefício próprio. Seria o mesmo que aumentar seus vencimentos ou nomear sua mulher para cargo vitalício especialmente criado para ela.
Pior mesmo é o recrudescimento da corrupção que uma reforma dessas implica. No custo político, o Estado será sucateado para aliciar votos no Congresso. No custo da economia nacional, Sérgio Motta já ampliou o tamanho da mala preta para caberem as contribuições desinteressadas do empresariado.
Todos ficamos sabendo que, a partir de agora, não será feita uma obra, o governo não comprará, desde um abridor de lata para a copa do Alvorada até um B4 (foguete para transportar satélite de comunicações), sem que alguém pingue generoso óbolo no pires do continuísmo.

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