São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 1996
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Entram menos dólares

CELSO PINTO

Um número tem intrigado o mercado neste mês. A média de entrada de dólares de origem financeira foi, até sexta-feira, a mais baixa desde o desastroso primeiro trimestre do ano passado, logo depois da crise do México.
A média por dia útil ficou em US$ 130 milhões, 41% abaixo dos US$ 220 milhões de agosto e dois terços inferior ao pico de US$ 350 milhões de junho. Por esta razão, houve um buraco de US$ 713 milhões nas contas financeiras do mês até agora, compensado parcialmente por um saldo de US$ 623 milhões nas contas comerciais (exportações menos importações).
Existem dois mercados oficiais de câmbio, o livre e o flutuante. O flutuante tem sido, neste ano, fortemente negativo: US$ 7,6 bilhões de janeiro a agosto. O câmbio livre, contudo, tem compensado este saldo negativo com saldos positivos, permitindo estabilidade ou perda pequena de reservas cambiais.
Neste mês, contudo, não tem sido assim. O flutuante continua negativo, projetando um saldo negativo entre US$ 900 milhões e US$ 1,1 bilhão. Se o câmbio livre também ficar negativo, a perda de reservas poderá ser significativa.
O saldo negativo do flutuante se explica porque o BC fechou, em fevereiro, a possibilidade de usá-lo para aplicações no Brasil sem taxação, o que estancou as novas entradas e está levando à liquidação do estoque existente. Além disso, é fechado pela conta do flutuante o "contrabando-formiga" com o Paraguai.
Parte do câmbio livre vem da exportação e importação e tem sido positivo, até porque a parcela financiada das importações não aparece nesta conta. A outra parte do câmbio livre tem origem nas operações financeiras, especialmente de três origens: investimentos em bolsa no Brasil, investimentos diretos e captações gerais (empréstimo bancários tipo 63, bônus, notes etc.). Aí está o problema.
O mercado não tem identificado uma retração excepcional nas entradas externas para as bolsas, ou nos investimentos diretos. Em agosto, entraram US$ 429 milhões líquidos em investimentos diretos, elevando o ingresso de janeiro a agosto a US$ 5,387 bilhões líquidos. O total, no ano, deve ficar perto de US$ 8 bilhões.
A desaceleração, portanto, se deu nas captações. A média por dia útil vem caindo desde junho, mas despencou neste mês. Alguns argumentam que a redução do retorno em dólares no Brasil tem desestimulado a entrada de capitais especulativos. Existe uma lista de emissões de bônus a serem lançados, a maioria de empresas, não de bancos, o que reforça esta interpretação.
Os números de fechamento de câmbio oscilam muito durante o mês. Portanto, os resultados parciais devem ser vistos com cuidado. Fica, de todo modo, o alerta que a trajetória até agora aponta uma perda razoável de reservas, ao contrário do que aconteceu em agosto, quando as reservas, pelo conceito de caixa, ganharam US$ 189 milhões, fechando em US$ 58,3 bilhões.
Imagem externa
O Itamaraty divulgou ontem um tipo de pesquisa jamais feita, sobre a imagem do Brasil no exterior -no caso na Alemanha-, com alguns resultados que surpreendem quem, como este colunista, trabalhou mais de quatro anos em Londres como correspondente.
A cobertura da mídia européia sobre o Brasil se concentra, há muitos anos, na devastação das florestas e nos problemas sociais. Mesmo assim, na associação espontânea, 69% do público alemão identifica o Brasil com natureza e turismo, 48% com cidades como o Rio e atrações e só 28% com problemas sociais. Quando perguntados sobre os aspectos negativos do Brasil, 55% lembraram pobreza e favelas e só 8% citaram a destruição da natureza e das florestas tropicais.
Surpreende, também, o grau de confiança de empresários com negócios no Brasil: 83% acham que a economia melhorou, 70% acham que melhorará, 15% que melhorará significativamente e 81% vão aumentar seus investimentos no país. O grupo com pior imagem é o dos parlamentares: 48% acham o governo atual apenas médio e 60% acham que o que a sociedade brasileira tem de pior é a política. Todos concordam que o melhor do Brasil é seu povo.

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