São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 1996
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Djibril Diop Mambéty busca personalismo

LÚCIA NAGIB
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Menos celebrado que seu conterrâneo Ousmane Sembène, o também senegalês Djibril Diop Mambéty merece igual atenção pelo estilo fortemente pessoal.
Seu "Touki Bouki" (73) foi chamado de "vanguardista", talvez por contrariar a expectativa de ingenuidade e "autenticidade" que um cinema jovem como o africano naturalmente suscita.
Mambéty é a prova de que o cinema africano já nasceu pronto para o diálogo internacional (embora a África pareça excluída do processo de globalização).
Segundo o diretor, o fragmentarismo, a ironia, a liberdade no tratamento do sexo, a sofisticação dos enquadramentos e da trilha sonora não são só elementos importados, mas recursos do próprio conto oral e da tradição africana.
Sem cerimônia, Mambéty compara seu cinema com a "máscara negra" africana que influenciou Picasso e mudou a arte moderna.
"Hyènes", a ser exibido na mostra, apresenta estrutura complexa de combinação de opostos.
Ao adaptar a peça de Friedrich Drrenmatt "A Visita da Velha Senhora"), Mambéty recorreu às suas experiências de infância, vivendo próximo às prostitutas do porto de Dacar.
O austero cenário suíço do original ganha assim, em sua versão, o colorido ao mesmo tempo alegre e terrível dos depósitos de lixo portuários, em meio ao qual a velha prostituta que retorna milionária à sua aldeia, arrastando-se em sua perna de pau, impõe-se com uma realeza à beira do sagrado.
Tanto quanto Mambéty, Idrissa Ouédraogo, de Burkina Faso, não teria dificuldade em se encaixar entre os grandes cineastas contemporâneos do mundo.
Sua extensa filmografia já conta com pelo menos três obras-primas: "Yaaba" (89), "Tilai" (90) e "Samba Traoré" (92).
Embora não tão brilhante quanto os dois outros, este último (escolhido para a presente mostra) contém, como os demais, os ingredientes que fizeram a fama do diretor: as elipses narrativas, a diminuta aldeia a partir da qual se universalizam as relações humanas, os silêncios, os diálogos breves e carregados de emoção contida.
Por exemplo, esta fala, extraída de "Samba Traoré": "Você é bela. Eu a amo. Tenho dito".
(LN)

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