São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 1996 |
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Governo Covas tenta "enquadrar" o MST paulista
GEORGE ALONSO
Há quatro meses se acentuaram os choques entre as atuações do superintendente do Incra no Estado, Miguel Abeche, e a Secretaria de Justiça, comandada por Belisário dos Santos Júnior. O "braço-de-ferro" foi vencido pelo secretário. Para Abeche, Belisário "o derrubou" numa manobra de "fritura". Ambos estiveram segunda-feira de manhã com o ministro de Política Fundiária, Raul Jungmann, em Brasília. A Folha apurou que a decisão de demitir Abeche foi sendo desenhada já à tarde. A política de reforma agrária que vem sendo implantada pelo governo estadual prevê assentamentos definitivos de sem-terra em áreas devolutas no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo), região de conflitos. O governo busca, até o momento sem sucesso, negociar o pagamento apenas das benfeitorias com os fazendeiros, em 38 áreas na região. Até agora, cerca de 2.000 famílias de sem-terra estão assentadas provisoriamente (ocupam 30% das fazendas pleiteadas pelo Estado). Já Abeche trabalhava para obter, por meio de desapropriação, cinco fazendas em Sandovalina (SP), o que levou o MST paulista a convocar as famílias a se prepararem para deixar os lotes provisórios, acenando com maior rapidez de ação por parte do Incra -em comparação com o governo estadual. "Rainha Elizabeth" Belisário nega que tenha "puxado o tapete" como afirma Abeche. A Folha apurou, porém, que havia um desgaste entre o Incra paulista e o governo estadual, resultado do descompasso de atuações -em que o Incra, para o governo estadual, emperrava o seu programa. A Folha apurou que, também na segunda-feira, o secretário cobrou de Jungmann uma atuação unificada no Pontal -por exemplo, até um cadastramento único de sem-terra (o que não ocorria). "Eu vim para ser um condutor da reforma agrária e não para ser uma rainha Elizabeth", reagiu ontem Abeche, que se disse "'traído" pelo ministro. "Foi ele quem mandou continuar, na segunda-feira, as negociações com os sem-terra. Ele falta com a verdade ao dizer que desobedeci uma determinação de não negociar enquanto o MST continuar a ocupar prédios públicos. Não houve essa determinação", emendou. O novo superintendente do Incra, Jonas Villas-Bôas, 47, atua na questão fundiária desde o governo Montoro (1982) e é um dos homens de confiança de Belisário. Hoje, Villas-Bôas estará no Pontal tentando "acelerar" as negociações com fazendeiros que ocupam áreas devolutas. O governo Covas quer mostrar rapidez na obtenção de terras para provar que faltava mesmo ação unificada. Abeche, 18 meses no cargo, tinha relação mais fácil com os sem-terra do que o governo estadual, apesar de nunca ter havido um rompimento do MST com Covas. Villas-Bôas dirigia até agora o Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) e teve vários atritos com o MST, que o acusa de dividir o movimento no Pontal e até chegou a pedir, sem sucesso, sua demissão do órgão. Texto Anterior: 'É uma provocação', acusa MST Próximo Texto: Havel testa pontaria em aldeia na Amazônia Índice |
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