São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Badan pede nova apuração de mortes

DA FOLHA SUDESTE; DA REPORTAGEM LOCAL; DA AGÊNCIA FOLHA

O médico-legista Fortunato Badan Palhares, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), divulgou ontem parecer sobre a morte de 19 sem-terra em Eldorado do Carajás, em abril passado.
Para Palhares, o fato de 42% das vítimas terem morrido com ferimentos produzidos por armas brancas -facas e machados, que não são utilizados pela Polícia Militar- sugere que novas investigações devem ser feitas.
"Não coube a mim, como legista, dizer se foi massacre ou não. O meu papel foi emitir um parecer com a minha avaliação sobre os laudos por meio da análise do material que recebi", disse.
No parecer, o médico explica que, dos 19 corpos analisados, somente 2 tiveram ferimentos produzidos por disparos a curta distância, o que pode caracterizar execução.
Segundo Palhares, o parecer deve servir para chamar a atenção das autoridades para que sejam reiniciadas investigações sobre o caso.
O parecer foi divulgado ontem pelo "Jornal da Tarde" e, de acordo com Palhares, havia sido enviado em julho ao secretário da Segurança Pública do Pará, Paulo Sete Câmara. Palhares disse que o estudo levou três meses para ser elaborado.
Segundo ele, o documento não é um laudo, pois foi feito a partir de um vídeo que mostra o confronto, de fotos dos corpos e das análises que já haviam sido feitas pelo Instituto Médico Legal do Pará.
Para Palhares, o documento só seria considerado um laudo se as análises tivessem sido feitas com os corpos dos sem-terra.
Também assinam o parecer Antonio Francisco Bastos, médico-legista do Departamento de Medicina Legal, e Mamede Augusto Machado de Oliveira, engenheiro eletricista do Departamento de Medicina Legal da Unicamp.
IML
O assessor da diretoria do IML (Instituto Médico Legal) do Pará, Joaquim Araújo, disse que o parecer feito por Badan Palhares repete as informações dos laudos oficiais do IML.
Araújo, que acompanhou a elaboração dos laudos, disse que Palhares foi além das conclusões técnicas dos laudos por se tratar de um parecer, sem contradizer seus dados.
Massini
O legista Nelson Massini disse ontem que o trabalho de Badan Palhares é "tendencioso" e "coisa dirigida" contra os direitos humanos no país.
Massini foi ao local do massacre a convite do Ministério da Justiça e da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e fez um parecer sobre as mortes, a partir do laudo dos legistas do Pará.
Massini afirmou que, ao chegar ao local do crime, os legistas paraenses já tinham encerrado a autópsia nos corpos dos sem-terra. Disse que tirou os corpos dos caixões apenas para verificar o trabalho feito pelos médicos locais.
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Massini afirmou que não chegou a escrever algum texto corroborando a versão dos legistas do Pará.
"Meu relato foi feito em depoimento na Comissão de Direitos Humanos da Câmara", declarou.
A partir desse depoimento, segundo Massini, foi redigida uma ata, cuja versão foi divulgada pela imprensa.

Texto Anterior: Governo paga por evento em Nova York
Próximo Texto: O massacre do Pará
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.