São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 1996
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Rodízio bom é o de churrascaria

OSWALDO SCHMITT

Carros servem para transportar pessoas de um lado para outro. São caros e bastante poluentes, principalmente porque quase sempre transportam apenas uma pessoa. E mais, requerem um espaço enorme. Cada automóvel exige cerca de 12 m² de área na garagem ou na rua. Como a capacidade das cidades de ampliar avenidas e construir viadutos é limitada, o resultado é o já conhecido congestionamento.
A maior diferença, durante o rodízio, foi um melhor fluxo no trânsito, devido à redução de veículos.
Mas os automóveis também representam um investimento elevadíssimo. O rodízio tirou de circulação aproximadamente 500 mil veículos por dia. Avaliando cada um em R$ 10 mil, verifica-se a imobilização de R$ 5 bilhões. E é óbvio que o Brasil não pode se dar ao luxo de "congelar" um capital tão grande.
Mas, se o automóvel incomoda tanto, por que passou a ser preferencial na vida das pessoas? Devido a uma constatação simples: elas andam de carro porque não têm um bom sistema de transporte coletivo. Nenhum sistema será bom enquanto não der preferência ao transporte de massa. E a ineficiência resulta em consequências desastrosas: poluição e prejuízo à saúde. Sem falar nos congestionamentos e prejuízos para o bolso.
O metrô é indispensável em São Paulo? É! Mas não resolve o problema sozinho. Se ele é insuficiente e caro, qual a saída? Priorizar o transporte de massa por ônibus articulados, que têm capacidade para transportar até 170 passageiros, ou biarticulados, que levam até 300 passageiros de uma só vez. O importante é tirar do centro os ônibus pequenos, que congestionam e poluem.
Os articulados e biarticulados utilizam apenas um motor diesel com baixo nível de emissões. A poluição que emitem por passageiro/km transportado é menor do que qualquer ônibus comum ou automóvel. Além de aumentar a capacidade de transporte, diminuem o tempo de viagem. Operando com plataformas de embarque ao mesmo nível do ônibus, oferecem uma qualidade de serviço comparável ao metrô. Até ar condicionado pode ser agregado. E não dependem de investimentos públicos. A tarifa é suficiente para pagá-los. Só é preciso que se faça a opção pelo transporte da maioria.
A solução já foi testada e aprovada em outras cidades, como Curitiba, onde 99 ônibus biarticulados transportam 350 mil passageiros/dia em apenas dois corredores. E substituíram 193 ônibus menores. O resultado é menos poluição e congestionamento e maior eficácia no transporte de massa. Rodízio bom é o de churrascaria.

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