São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 1996
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Beócio "just in time"

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - O governo está preparando uma verdadeira avalanche de boas notícias na área econômica para o final deste ano e início de 97.
A principal é a inflação. FHC vai anunciar em janeiro a menor taxa inflacionária em décadas.
Além disso, a economia terá voltado a crescer. Haverá oferta de novos empregos em algumas regiões.
Tudo será embalado numa campanha de marketing sobre os dois primeiros anos do governo FHC. Até a esquecida classe média terá o seu presente do governo.
Ontem, a Caixa Econômica Federal anunciou que fará uma grande oferta de financiamento para compra de imóveis a partir do final de outubro. Serão atingidas famílias com renda mensal superior a 12 salário mínimos.
O governo espera formar um clima favorável equivalente ao do início do Plano Real. Na avaliação dos estrategistas tucanos, a população já absorveu a queda da inflação e agora deseja algo mais.
Esse "algo mais" é uma condição de vida melhor, com inflação ainda mais baixa. Isso deve começar a se tornar realidade na virada do ano.
FHC estará imitando a reposição de estoque feita por empresas modernas. O presidente utilizará um serviço "just in time" para melhorar a percepção da população sobre a economia. O efeito virá na hora exata da votação da reeleição no Congresso.
É evidente que não dá para criticar quando a economia melhora. Mas também fica cada vez mais clara a razão de o governo e seus aliados terem tanta certeza de que o melhor momento para colocar a emenda da reeleição em votação é mesmo no começo do ano que vem.
O curioso é que este governo tucano gosta de subestimar a inteligência alheia. Ontem, FHC disse que não é um "beócio" para ficar programando a economia de acordo com seus interesses políticos. Na realidade, ele faz o inverso. Molda seus objetivos políticos aos econômicos.
Isso pode ser até legítimo. Só que o presidente prefere esconder. Por quê?

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