São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 1996
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Violência e paz urbana

VIRGÍLIO GUIMARÃES

Mais além da angústia, do medo e mesmo do terror que nos assalta a cada dia, é preciso refletir com racionalidade sobre a voragem de violência que engolfa as duas maiores cidades do país.
Ao vê-las assim, dilaceradas, tomamos consciência de que são os nossos próprios princípios de convivência humana que estão em jogo: o Rio, que é depositário de momentos decisivos de nossa memória histórica e cultural, e São Paulo, que detém a chave de nossa modernização econômica e industrial.
Mas poderia ser diferente?
Aglomere em um mesmo espaço urbano, excitado pelo consumismo, milhões divididos pelos mais infamantes índices de concentração de renda do mundo. Retire de mais de 1 milhão de pessoas a possibilidade de um emprego digno. Sucateie a escola pública e exponha centenas de milhares de crianças e adolescentes, em um período vital da formação da identidade e do caráter, à desesperança de encontrar uma perspectiva segura de vida.
Construa máquinas de polícia que frequentemente reincidem, com a impunidade da farda, nas mesmas violações de direitos humanos praticadas por criminosos. Enfim, sature os circuitos culturais de vídeos e enlatados que levam ao paroxismo e banalizam a violência.
Isso -e muito mais- é o que foi feito neste país. A colheita da violência urbana implacável só pode, pois, surpreender os que não têm sensibilidade social e perseveram em um egoísmo cada vez mais irracional. E Belo Horizonte tem tudo, até pela proximidade geográfica, para ser o outro vértice desse "Triângulo das Bermudas" da violência urbana.
Mas aqui na capital mineira, de forma cotidiana e metódica, estamos construindo a paz. Ao estilo dos mineiros: sem a parafernália "midiática" das ações exemplares de fachada, como o Cingapura e o PAS em São Paulo.
Em Beagá, está se invertendo, no que tange às políticas de governo, a injusta distribuição de renda. A receita tributária, que quase dobrou nos últimos quatro anos, foi investida maciçamente na cobertura social dos que moram na periferia. Com a contratação por concurso de servidores para a saúde e a educação, com o apoio à pequena e à média empresa, criando bolsas de trabalho e cursos profissionalizantes, estamos fazendo a nossa parte no combate ao desemprego.
Com a implantação da "Escola Plural" -que já começa a erradicar a evasão escolar-, programas intensivos dedicados aos menores de rua (retirando centenas deles do abandono), a ampliação das verbas para creches conveniadas, o apoio e a revitalização do CACs -centros de formação e lazer voltados para os adolescentes-, estamos cuidando com atenção do futuro de nossa juventude.
A recente adoção da "Bolsa-Escola", que remunera famílias sem renda que se comprometem a manter os filhos nas escolas, é outra medida chave. Da mesma maneira, torna-se necessário ainda um policiamento preventivo e ostensivo, assegurado sempre o respeito aos direitos fundamentais do cidadão.
Como continuador dessa opção radical pela cidadania, colocada em prática durante a gestão do prefeito Patrus Ananias, pretendo prosseguir nessa opção por políticas públicas de modernização com inclusão social.
E, na construção permanente dessas novas esferas de convivência humana, quero fazer da paz urbana o símbolo máximo da minha gestão. Belo Horizonte, capital da paz, será o símbolo do centenário da cidade. Afinal, a conquista da paz exige consciência social, mobilização da sociedade civil e ações urgentes de governo. Não esperemos que a voragem da violência chegue ao insuportável para levar às ruas um programa pela paz urbana.

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