São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 1996
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Ernestine canta seus blues no Free Jazz

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma das mais completas cantoras do jazz na atualidade estará entre as atrações do Free Jazz Festival. Em shows nos dias 10 (São Paulo) e 11 (Rio de Janeiro), Ernestine Anderson, 67, vai exibir seu ecletismo pela primeira vez no país.
"Vários amigos já pediram que eu os levasse comigo, dentro da mala. Morro de vontade de ir ao Brasil há muitos anos", disse a norte-americana à Folha, ontem, por telefone, de Seattle (EUA).
Aproveitando a ocasião, a gravadora WEA distribui "Blues, Dues & Love News", CD que a cantora lançou há pouco nos EUA pelo selo Qwest -dirigido pelo megaprodutor Quincy Jones.
"É um álbum com sabor de blues, mas não necessariamente um disco de blues", resume Ernestine, que alterna no repertório composições próprias, "standards" jazzísticos e versões de antigos hits da música pop.
Entre estas, aparecem "Reach Out (I'll Be There)" (do grupo vocal Four Tops), "Sister Moon" (de Sting) e "You Were Always in My Mind" -uma homenagem ao cantor country Willie Nelson.
"Foi muito excitante gravar ao vivo, no clube de B.B. King, na Califórnia, mesmo que, em geral, eu prefira gravar em estúdio", disse a cantora, prometendo incluir canções do álbum em seus shows no Brasil.
O antigo envolvimento com o blues (no final dos anos 40, Ernestine foi vocalista da banda do "bluesman" Johnny Otis) já lhe rendeu boas doses de preconceito, por parte de críticos que não a consideram propriamente jazzista.
Hoje, porém, isso já não parece incomodá-la. "Eu sou apenas uma cantora e amo a música. Não gosto de categorizar ou limitar o que eu faço", responde.
"O que as pessoas não sabem é que eu nem gostava de blues quando era muito jovem. Meus pais ouviam Muddy Waters e Bessie Smith o tempo todo, mas só vim a gostar do blues bem mais tarde. Meu negócio era o jazz", diz.
O reconhecimento por parte da crítica veio a partir de 1956, com o lançamento do álbum "Hot Cargo", depois de trabalhos ao lado de figurões como Lionel Hampton, Duke Jordan e Quincy Jones.
Mas só mesmo nos anos 80 Ernestine passou a gravar com regularidade, graças a um longo contrato com o selo Concord.
Seus discos dessa fase destacam vários mestres do jazz, como Ray Brown, Benny Carter e Hank Jones.
A presença do pianista brasileiro Jetro Alves da Silva no trio que acompanhará Ernestine não é gratuita. "Adoro a música brasileira, principalmente Tom Jobim", diz a norte-americana.

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