São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 1996
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TERRA SANTA SEM MILAGRES

O terrível confronto entre as polícias israelense e palestina, ontem, projeta novamente a sombra da desesperança sobre a região que foi o berço milenar de esperanças fundamentais. Tragicamente, hoje é exatamente em nome dessas origens que se multiplicam os fundamentalismos, colocando a perder esperança.
A análise fria e objetiva torna-se cada vez mais difícil num processo de negociação em que a violência, tanto a guerrilheira quanto a estatal, tem sido parte essencial. A única atitude proibida, no que se refere ao Oriente Médio, é a ingenuidade.
O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está completando seus primeiros cem dias. Nas últimas semanas houve um recuo desse líder de direita, que afinal acabou admitindo a reabertura de negociações com o líder palestino Iasser Arafat. Mas o governo de Israel continua abraçando um princípio político-filosófico que é a negação total do espírito das negociações de paz dos últimos anos, ao negar a fórmula "terra por paz".
Evidentemente, a partir dessa reversão do projeto pacificador os radicais palestinos também ganham força. E no momento em que a própria polícia palestina abre fogo contra as forças israelenses, já há quem levante não apenas a hipótese de envolvimento de autoridades mais altas no episódio como, no limite, de questionamento da capacidade de controle do próprio Arafat.
O impasse central é a retirada das tropas de ocupação israelenses de Hebron, que estava prevista para março e fora adiada já pelo então premiê Shimon Peres às vésperas da eleição em que acabou derrotado. Nos meses seguintes o próprio Peres tentou manter-se em cena, atuando como influência moderadora e tentando resgatar seu projeto de pacificação com maior autonomia da Autoridade Palestina. Netanyahu, entretanto, vem negando sobretudo essa autonomia.
A esperança perdeu espaço para a frustração. Nessas circunstâncias, parece cada dia mais difícil trazer de volta a tranquilidade não apenas a israelenses e palestinos, mas à própria comunidade internacional.

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