São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 1996
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O voto de Deus e do diabo

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Ou a memória me trai ou não houve campanha eleitoral recente em que foi tão difícil, para o eleitor comum, julgar se as propostas ou realizações dos candidatos são ou não corretas.
Começa pela polêmica em torno do "Fura-Fila". Era apresentado pelos adversários de Celso Pitta (PPB) como um tremendo engodo e, pelo próprio Pitta, como a mais brilhante solução para o transporte coletivo desde a invenção da roda. Sem meio termo.
A polêmica só terminou quando a Folha enviou um repórter a Essen e provou que o "Fura-Fila" estava em vias de ser desativado, por inviável.
Depois, vem o PAS, o programa de saúde do prefeito Paulo Maluf. A se acreditar na propaganda eleitoral gratuita de terça-feira, o PAS é:
1 - ou o assassino de um cidadão que, com hipertensão, deixou de ser atendido em um hospital do PAS, conforme a denúncia do candidato José Aristodemo Pinotti (PMDB).
2 - Ou um esquema tão brilhante que faria o Incor, conhecida ilha de excelência na medicina brasileira, parecer um hospital rural do Burundi.
Aí, de duas uma: ou o cidadão é usuário do PAS e pode tirar suas próprias conclusões ou fica impossibilitado de julgar um programa que é, ao lado do Cingapura, o principal cartão de visitas da atual administração.
Com o PAS, aliás, o problema vem desde o seu lançamento. Foi tamanha a polêmica em torno dele que só especialistas ficaram autorizados a tirar conclusões. E, como muitos dos especialistas eram interessados diretos na questão, abria-se espaço para desconfiar de suas avaliações.
Parece evidente que a sociedade precisa de canais institucionais mais confiáveis (e permanentes) capazes de fornecer uma avaliação isenta de ações governamentais.
Sob pena de acabar acreditando que Francisco Rossi (PDT) é de fato íntimo de Deus. Ou que o diabo terá sérias dificuldades para escolher candidato em São Paulo.

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