São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996
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Outras campanhas

JANIO DE FREITAS

Um velho preceito do jornalismo, segundo o qual não se divulga fragilidade de um banco, pelo risco de o condenar com a provável corrida de clientes, está superado no Brasil.
Procurar maneiras de informar o leitor sem prejudicar a empresa era, sem dúvida, uma necessidade tão velha quanto o preceito cauteloso. Não houve tal procura, no entanto. De repente, alguns meios de comunicação passaram a publicar noticiário sobre dificuldades do Bamerindus com destaque e insistência assombrosos. Só contra o Bamerindus, como se fosse o único banco a necessitar de recomposições. Ou o que mais precisasse disso.
Ainda assim, seria possível conceder que a motivação fosse a de informar, abandonando a convenção jamais avaliada direito. Logo, porém, se evidenciou que, a par do pequeno noticiário apenas inconvencional, prosperou intenso noticiário fabricado, sem compromisso com fatos. E proveniente da associação entre certos dirigentes do Banco Central e jornalistas que lhes prestam serviço oculto. Passando, por acaso, ao lado de uns e outros, notórios interessados e interessados menos notórios em tornar-se proprietários do Bamerindus ou de partes do grupo.
Ainda está por ser explicada a sobrevivência do banco ao noticiário tão adverso e tão duradouro. Mas o insucesso de outra campanha não contém incógnitas: é de alguns meios de comunicação contra a permanência de Adib Jatene no Ministério da Saúde.
Ao menor pretexto, e Fernando Henrique Cardoso tem especial prazer em produzir coisas no gênero, jorram de Brasília notícias diárias de Adib Jatene já prepara sua saída, depois já fez a carta, vai sair naquele dia, adiou mas sairá mesmo, o substituto é fulano, passou a ser beltrano, é hoje a conversa com Fernando Henrique. E aí, anêmica e espremida, a notícia de que Jatene conversou com Fernando Henrique e continua no governo.
É variada a motivação desse noticiário persistente: o serviço a lideranças do PFL, PMDB e PPB interessadas no lugar de Jatene, o conluio com a seção de intrigas do Planalto, a criação embromatória de repórter e, não por último na ordem de importância, interesses inconfessáveis em gastos feitos pelo ministério. Interesses, claro, de fora e de dentro do próprio governo.
Mas Jatene não tem encontrado dificuldade de provar que é um ministro que trabalha mesmo, que tem resultados a exibir e não está fazendo política. O governo está ciente de que o prestígio de Adib Jatene como ministro é maior, e comprovado, que o do governo como todo.

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