São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996
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Idéia foi um sucesso, mas teve vida curta

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Plano Brady foi um sucesso imediato, mas teve uma vida mais curta do que se imaginava. Hoje, dos países que trocaram suas dívidas, a maioria já quer fazer uma nova reestruturação.
O sucesso do Plano Brady se deveu a uma idéia simples. Toda a dívida externa velha foi trocada por títulos novos, com desconto.
Esses papéis novos, emitidos no início dos anos 90, nasceram com uma garantia adicional: eram atrelados, em parte, a títulos do Tesouro dos EUA, uma das aplicações mais seguras do mundo.
Quer dizer: além de a dívida ter sido repactuada, os débitos de países caloteiros como o Brasil passaram a ter a garantia dos papéis norte-americanos.
Se um país voltasse a dar um calote, bastaria ao banco credor internacional usar os títulos dos EUA que foram dados como caução na troca da dívida.
Só que isso tudo foi feito em um ambiente de hiperinflação e falta de perspectiva econômica. Brasil, Argentina e México, para citar os três principais exemplos latino-americanos, estavam completamente desajustados.
Desconfiança
É curioso lembrar que os credores tinham desconfiança até do Plano Brady. No caso do Brasil, a idéia de fazer algo semelhante já havia surgido em 87, quando o ministro da Fazenda era Luiz Carlos Bresser Pereira.
Bresser sugeriu aos credores fazer uma securitização da dívida externa do Brasil. Securitização é o jargão econômico mais correto para o que fez o Plano Brady: trocar uma dívida velha por uma nova, dando mais garantias (securitizando, portanto).
Os bancos internacionais só faltaram pedir a cabeça de Bresser em público. Porque, em particular, o presidente José Sarney soube claramente desse desejo dos credores.
Hoje, pouco mais de cinco anos depois de o Plano Brady ter sido lançado, o México já trocou parte de seus "bradies", como são chamados os bônus que nasceram na reestruturação das dívidas.
E o Brasil vai para o mesmo caminho. O Senado já aprovou um pedido do Banco Central para uma nova troca da dívida externa.
Será uma espécie de "neoplano" Brady. Agora, os credores já recuperaram parte da confiança no Brasil. Por isso, não são mais necessárias as tais garantias -os títulos do Tesouro dos EUA que o governo brasileiro comprou para oferecer como caução.
Existe um mercado grande de investidores institucionais no exterior, com mais disposição de investir no risco Brasil. Gente que acredita que o país vai dar certo e acha um bom negócio comprar títulos do governo brasileiro.
É por isso que o Banco Central deve, em breve, recolher parte dos "bradies" brasileiros para emitir outros papéis em troca.

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